JESUS ORIENTA OS DISCÍPULOS EM MISSÃO
Georgino Rocha
Mar Tiberíades |
O mar de Tiberíades é cenário aberto e expressivo da acção de Jesus ressuscitado. Acção que nos chega em forma de narrativa com fundo histórico e/ou carácter simbólico. A que faz o relato da aparição/manifestação de Jesus aos discípulos pescadores pertence a este tipo de narrativas e comporta uma mensagem qualificada.
Antes de serem discípulos, alguns dos que seguiam Jesus eram pescadores de profissão, conhecendo bem os tempos e as marés favoráveis, o rumo previsível do peixe em movimento e, consequentemente, as horas propícias para a sua captura. Também lhes eram familiares a barca do trabalho, as redes da esperança, o saco repleto de sonhos alcançados ou de desejos adiados. Esta sábia experiência perdura mesmo durante o acompanhamento de Jesus em que tantas surpresas aliciantes acontecem.
Porém o desfecho de tudo isso – a condenação à morte do Mestre – desilude-os completamente, deixa-os desorientados e leva- os a regressar a suas casas, a retomar o trabalho do “ganha pão”, a “fazer o luto” pela perda do amigo em quem confiaram, a recompor-se interiormente, a reconstituir os laços solidários com a vizinhança e os companheiros da faina, a encarar o futuro ensombrado que, lentamente, se vai entreabrindo.
Após uma noite de labuta estéril, deparam-se com uma surpresa desconcertante. Era ao romper da manhã. Rapidamente chegaria a claridade do pleno dia. Jesus tinha em marcha um plano de regeneração das esperanças desfeitas e dos ânimos abatidos. Ele mesmo liderava o processo. “Rapazes, tendes alguma coisa de comer?” “Não” – respondem, dando voz à situação de privação em que se encontram e indiciando o vazio interior em que se sentem. “Lançai as redes para o lado direito do barco e encontrareis”.
Eles, homens calejados naquelas lides, confiam docilmente na palavra de um desconhecido. Nem sequer contrapõem a sua experiência amadurecida ao longo dos anos. E avançam pelo mar dentro. Entretanto, Jesus prepara-lhes uma recepção calorosa: brasas acesas na praia com peixe em cima e pão. E diz-lhes: “Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora”, acrescentando: “Vinde comer”. De facto, a pesca, contra todas as expectativas, tinha sido muito abundante.
A cena desenrola-se com outros episódios significativos: João que intui ser Jesus ressuscitado a figura da margem; Pedro que se lança à água; barcas que são puxadas pelos pescadores; diálogo de amor e missão que Jesus tem com Pedro e o convite que lhe faz: “Segue-me”.
Em cenário de pesca marítima, o narrador “desenha” com traços muito vivos a relação de Jesus com os discípulos, com a comunidade eclesial, com Pedro e seus sucessores. Define a missão que lhes confia como um serviço de amor. Apresenta o mar da vida como horizonte e fronteira de acção. Vela com solicitude por todos e marca encontro/convívio na refeição/eucaristia. De facto Jesus toma sempre a iniciativa e orienta a sua Igreja no desempenho da sua missão no mundo/na sociedade.