Sinais dos tempos…
Maria Donzília Almeida
Qualquer professor depara, hoje, com muita frequência, nas nossas salas de aula, com um tipo de alunos, que os psis…rotularam de hiperativos.
São aquele tipo de criaturas que põe em polvorosa a paciência de qualquer docente, seja ele em princípio de carreira, seja ele já um professor com tarimba na profissão.
É aquele aluno que está sempre a mexer, que fala pelos cotovelos, que se mete com os colegas, enfim, que desestabiliza completamente o ambiente da sala de aula e leva o professor ao desespero.
Reportando-me aos tempos em que estive do outro lado da barricada, no remoto século XX, não tenho memória desta tipologia de alunos. Se os havia, ninguém dava por isso, ou eles sabiam,muito bem, controlar esse superavit de energia.
A comunicação entre as pessoas era essencialmente verbal, oral e escrita.
É certo e sabido que não existiam ainda e estavam longe da cogitação do cérebro humano, os últimos avanços da tecnologia. Estes funcionam, as mais das vezes, como elementos distratores do processo ensino/aprendizagem, constituindo um grande inimigo do professor! O telemóvel está no pedestal desta competição!
Ainda sem conhecerem as regras da gramática e muito menos do acordo ortográfico, as pessoas, em geral comunicavam mais, em tempo real, pois toda a comunicação era real! Hoje, no século da eletrónica, já que o século das luzes está ultrapassado, tudo, ou quase tudo é virtual. Comunica-se, sem se proferir uma palavra e sem se sair do conforto de uma poltrona no escritório!
A língua, sempre a acompanhar a evolução social, dinâmica e adaptativa, criou um novo termo, a par com falar, comunicar, telefonar – teclar! Hoje, num qualquer programa de comunicação virtual, o chat, os interlocutores esgrimem ideias, afetos, sentimentos, sem a perceção de um sorriso verdadeiro... que não seja através da máquina e toda a sua panóplia de acessórios!
Sobre o assunto em epígrafe - os alunos hiperativos - encontrei, aquando da investigação sobre “Língua e Costumes da Nossa Gente”, um termo antigo, muito usado nas Gafanhas e que traduz, na perfeição, o conceito que está subjacente a esta realidade. O “esfervelho” seria para aqueles tempos de língua portuguesa estabilizada (!?), o arcaísmo dos nossos atuais hiperativos. Segundo a minha memória me reporta, esta figura psicológica restringia-se, às criancinhas, de muito tenra idade, que acompanhavam as mãezinhas à missa, num espaço e num contexto que ainda não era o seu. Quando as progenitoras lhes segredavam ao ouvido: “caladinho (como) na missa”, eles obedeciam numa clara evidência de respeito e obediência da autoridade superior. Camões, meu velho vate, vem sempre em meu socorro com a sua frase lapidar: “Mudam-se os tempos…”
Hoje, proliferam os hiperativos e todas as turmas das nossas escolas, apresentam um número considerável de exemplares, para gáudio e consumo dos psis… Estes tentam pôr paninhos quentes naquilo que noutros tempos era classificado como apenas e tão só, uma grande má educação!
Os pais demitiram-se, por muitas razões, da sua principal e mais importante tarefa – educar!
Tudo, hoje, é virtualmente possível, à distância de um click e do movimento orientado do rato, sendo que nas relações humanas se retrocedeu!
Até a felicidade parece sê-lo, nestes tempos difíceis de resignação para uns e de contestação e revolta para outros.
07.03.2013
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