quinta-feira, 7 de março de 2013

A Igreja conciliar não admite protagonismos individuais

Continuar, renovar, inovar?
Este o desafio posto à igreja
António Marcelino

António Marcelino


Na Igreja, como na sociedade, a procura de caminhos novos para melhor servir as pessoas é um problema que se põe com premência e que não se pode iludir. As mudanças sociais e culturais, as novas aquisições tecnológicas, as experiências vividas por pessoas empenhadas, o realismo e as exigências da vida diária e, no caso da Igreja, as orientações conciliares e história vivida exigem uma atitude positiva ante os desafios que surgem a cada hora. Uma atitude que pede clareza nos objetivos, verdade nas propostas, conhecimento, reflexão, abertura, disponibilidade e discernimento nas decisões e, por fim, avaliação responsável.


Continuar o que se faz pode ser um ato positivo ou negativo, conforme ou não se apoiam iniciativas válidas em andamento, se paralisa ou estimula a vida, quando há necessidade, em campos determinados, de rever caminhos e decidir, criteriosamente, o que parece mais adequado. Renovar o que está pode comportar conteúdos novos e válidos e, em muitos casos, suficientes para o que se pretende. Inovar ou criar pode ser caminho a recomendar se forem respeitados valores e princípios, como a história das instituições em causa, os esforços que perduram com êxito, as pessoas que se empenharam e empenham, os resultados obtidos, os caminhos que se abriram com horizontes largos, as experiências válidas que se viveram, as iniciativas promissoras ainda em curso. Ninguém cria ou inova a partir do nada, ou da terra queimada, incapaz, por um tempo, de qualquer sementeira com futuro. Sem este respeito e atenção fica o caminho aberto a aventuras pessoais e irresponsabilidades coletivas.
A inovação na Igreja, sobretudo, não é obra individual ou de génios, à margem do contributo da comunidade concreta, com a sua dimensão e capacidade ativa e passiva. Aparece sempre gente da última hora, com o carisma do Apocalipse, a pensar que tudo tem de ser feito de novo e já, e apenas a partir de si se podem fazer coisas com êxito e valor que perdure. O que está para trás não é sempre para esquecer. É verdade que, na Igreja, muitas estruturas que não se renovam acabam por paralisar a vida, e problemas que não se solucionam acabam por gerar novos problemas, normalmente mais graves e complicados.
O trabalho que atinge uma comunidade que não começou ontem e tem a sua história, na qual muito se fez com sentido, amor e dedicação, exige atenção e respeito, sem que isso impeça inovar, antes o recomende, quando há aspetos necessários e concretos a considerar essa decisão. Inovar não é uma moda que deslumbra, mas que também passa.
Nas comunidades cristãs, sentem-se, cada dia, as dificuldades e, com frequência, vive-se uma sensação de vazio. Porém, não se purificam as mazelas existentes, nem se resolvem as dificuldades ou se preenchem os vazios, a partir de fora, ou seja, à margem das pessoas e das mesmas comunidades. Nelas existem capacidades e dinamismos que é mister saber reconhecer antes de agir. As pessoas, pelos seus dons e suas qualidades inatas ou adquiridas, e as comunidades pela sua história, ação operada ao longo do tempo e sobrevivência visível, são sempre o ponto de partida para inovar. Na Igreja nem tudo é descartável. Não o podem esquecer os líderes, a menos que optem, à revelia do bom senso e do Concílio, por serem centralizadores, que só precisam de gente para lhes obedecer, esquecendo que, fora e além deles, há pessoas e instituições com valor, indispensáveis num processo criativo.
O caminho da inovação, na Igreja de hoje e de amanhã, requer sempre dos responsáveis um compromisso de fé com Jesus Cristo e o seu Evangelho e com as orientações conciliares. Requer, também, capacidade de diálogo e de trabalho em equipa, liberdade interior, conhecimento concreto da realidade e dos dinamismos sociais que a comandam e condicionam, abertura às diversas formas de colaboração, provindas de dentro e de fora da comunidade cristã.
A Igreja conciliar não admite mais protagonismos individuais, mas postula compromissos comunitários, atuação sinodal que envolva o clero, leigos e consagrados, indivíduos, movimentos e instituições. A inovação séria não é fruto de decisões meramente pragmáticas, nem da procura de êxitos fáceis. É fruto de processos pensados e ponderados comunitariamente. Na avaliação necessária, tudo isto virá ao de cima, como considerado ou menosprezado. Evangelizar exige muitas vezes criar ou inovar, sobretudo na comunicação que anuncia o essencial, o Cristo Pascal.



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