TÃO HUMANO, SÓ DEUS
Georgino Rocha
Georgino Rocha |
A paixão de Jesus condensa e realiza, de forma sublime, o seu amor pelo bem dos outros. Mostra com clareza o centro da sua vida e missão. Une, de modo feliz, a dedicação às pessoas com o desejo intenso de Deus Pai salvar a todos. Leva ao extremo a capacidade de doação que perdoa aos verdugos, suporta o abandono dos amigos, vibra e chora com a dor da multidão, aceita a ajuda dos que o acompanham na caminhada pública, se solidariza com a sorte dos excluídos e condenados e condói com toda a humanidade.
Toda a vida de Jesus está centrada nos demais que, em nome de Deus, quer libertar da indiferença e insensibilidade, do preconceito e do medo, da satisfação instalada e da relação egoísta. Centrada neles para lhes abrir horizontes como os seus e suscitar uma entrega tão generosa como a sua. A paixão de Jesus consiste em viver para os outros, correr os riscos desta opção e pagar a respectiva factura de incompreensão e morte. Não é simples compaixão ou ingénua comiseração.
O amor de misericórdia fá-lo partilhar a ceia memorial com os amigos, a ser compreensivo com os discípulos no Jardim das Oliveiras, a olhar compassivo a Pedro negador, a acolher com ternura o choro das mulheres de Jerusalém, a confrontar Herodes e Pilatos com a verdade, a aceitar a desejada colaboração de Simão de Cirene, a acolher as imprecações dos soldados e as lamentações dos condenados, a contemplar o grupo de fiéis seguidores junto à cruz, a entregar o cuidado da Mãe a João e deste àquela, a morrer confiante nos braços do Pai.
O amor de Jesus faz-se oração de perdão pelos seus algozes e por aqueles que o condenaram, faz-se oferta de salvação ao ladrão arrependido: “Hoje, estarás comigo no Paraíso”, faz-se morte que suscita vida nova. E o centurião romano ao ver o que ocorria reconhece Jesus como um homem justo e dá glória a Deus. De facto, “tão humano, só Deus” (Boff).