FAZ TUAS AS OPÇÕES DE JESUS
Georgino Rocha |
O episódio das provações de Jesus desvenda o drama do ser humano que quer ser fiel ao seu projecto de vida, à sua consciência livre de seduções insidiosas, à sua liberdade soberana, mesmo perante as necessidades mais elementares. Lucas, o narrador do acontecido, que tem alcance simbólico, coloca frente-a-frente o Diabo e Jesus e desenvolve a provocação em três cenas expressivas: a do pão para quem tem fome; a do poder dominar outros para quem se sente dependente; a de dispor de Deus, a seu bel-prazer, para exibição do seu estatuto social e religioso a quem respeita a normalidade da natureza humana e de toda a criação.
O diabo teima e insiste. Jesus resiste e persiste. Ambos se justificam com a palavra de Deus que mostram conhecer muito bem. Ambos tomam a dianteira na provocação: o diabo faz a proposta, Jesus dá-lhe a resposta, abrindo horizontes novos. O “taco-a-taco” mantém-se…, desistindo provisoriamente o diabo. Mais tarde, nas cenas da paixão e do calvário, investe definitivamente e consegue, por meios legais e humanos, eliminar fisicamente aquele que antes não tinha podido vencer. Jesus, porém, mantém a confiança radical em Deus, seu Pai, que o ressuscita da morte e o faz vencedor para sempre. Jesus vê assim confirmadas as opções da sua vida que nós somos convidados a assumir, fielmente, com verdade e entusiasmo.
As provações sedutoras insinuam-se constantemente. O dinheiro/ouro luz, reluz e seduz; o poder atrai e exibe-se; o êxito afirma-se e impõe-se. E os três pretendem ser os pilares da nossa sociedade, os objectivos de tantas carreiras profissionais, o móbil que condiciona as consciências e faz girar o mundo. A tríade ramifica-se em muitos “filhotes” que a publicidade consumista se encarrega de fazer apresentar de forma insinuante e atraente.
Jesus não nega o que pode haver de verdade nas tentações diabólicas. Para ele á claro que o pão/alimento integral do ser humano é indispensável a todos e, por isso, lembra a necessidade do pão do espírito, da palavra que vem de Deus e se prolonga na palavra humana. Para ele é claro que o poder tem autoridade e força, não de subjugação e eliminação, mas de serviço adequado às situações degradadas para que sejam superadas. Para ele é claro que o êxito é desejável e deve ser legitimamente prosseguido, não à custa dos outros, mas com eles e possibilitar a realização feliz de todos.
A este propósito, evoco com emoção a estória de um antropólogo inglês que estudou durante anos uma tribo sul-africana. Recolhidos dados que - pensava - poderem definir bem o “húmus” da tribo, encontra um “bando” de crianças a brincar. Chama-as e diz-lhes: “Pus junto àquela árvore um saco de rebuçados. Quem chegar lá primeiro, fica com os rebuçados todos para si”. Imediatamente, as crianças dão as mãos e avançam ao ritmo das mais pequenas. Sorridentes, pegam no saco e vêm para junto do antropólogo. “Por que fizestes assim?” - pergunta. “Não podemos deixar que só uma seja feliz e as outras, não”. E o estudioso antropólogo conclui sabiamente: “Aprendi mais com este episódio do que com todo o meu estudo”.
Ser feliz com todos é a proposta de Jesus. Este é o sonho de Deus em realização. Este é o projecto dos discípulos que dá consistência à resistência a todas as forças diabólicas e abre horizontes às nossas lutas diárias. Faz também tuas as opções de Jesus Cristo.
Georgino Rocha