DESPERTA E VERÁS A GLÓRIA DE JESUS
Georgino Rocha |
É o que acontece a Pedro, Tiago e João, os amigos de Jesus que o acompanham na subida ao monte da Transfiguração. É o que acontece àqueles que aceitam o convite para fazerem a caminhada quaresmal e celebrar a Páscoa da ressurreição. É o que acontece a todos os que, de coração sincero e consciência (in)formada, progridem no apreço pela vida humana digna e aberta a ideais nobres e felizes.
A tríada de testemunhas é atacada pela sonolência que lhe provoca o adormecimento. “Estavam a cair de sono” – afirma Lucas, o narrador do episódio que reveste características de manifestações solenes de Deus noutras passagens bíblicas. Jesus mantém-se em oração e sente que todo o seu aspecto se altera, ficando com um brilho refulgente. Ao mesmo tempo, aparecem Moisés e Elias, protagonistas maiores e símbolos máximos do Antigo Testamento, e conversam com ele sobre o que iria acontecer em Jerusalém.
Despertos, os amigos de Jesus vêem a glória que o envolve e dele irradia, dão conta que aquelas duas figuras vão desaparecendo, manifestam a sua alegria pela experiência gozosa que estão a viver e querem prolongar, sentem medo perante a nuvem que os cobre com a sua sombra e ouvem uma voz que dizia: “Este é o meu Filho, o meu eleito: escutai-O”.
O acolhimento de Jesus, Filho de Deus, acontece em quem está desperto das sonolências que adormecem as consciências, das meias verdades que enganam, das rotinas que pesam e cansam, dos preconceitos que ensurdecem, das “manias” que paralisam, da opinião publicada que, frequentemente, manipula e distorce a realidade, da apatia e indiferença que distanciam a proximidade e destroem o envolvimento, da crendice que amarfanha e desfigura a sede humana do divino, do medo que inibe e fecha horizontes, da acomodação que instala e aburguesa, do ego centrado no subjectivo que relativiza e deforma.
A tríade liberta-se do adormecimento e contempla com novo olhar a realidade envolvente centrada em Jesus, escuta com ouvido apurado a voz do Pai provinda da nuvem, vence a tentação das tendas da acomodação e desce a encosta do monte para viver na planície os dramas e os desafios que aguardam resposta digna da condição humana.
A transfiguração faz-nos ver a autenticidade de Jesus, o Filho de Deus, dá lucidez e coragem aos seus amigos e seguidores para verem a outra face da vida, abre horizontes de ressurreição aos acontecimentos “negros” da paixão injusta e da morte aniquiladora. E, para todos sem distinção, atesta solenemente: Escutai o meu Filho amado, o escolhido para realizar, convosco, a salvação que generosamente vos ofereço.
Georgino Rocha