sábado, 26 de janeiro de 2013

Justiça para os humilhados


FIXOS EM JESUS OS OLHOS DA ASSEMBLEIA
Georgino Rocha

Georgino Rocha

A leitura que Jesus faz na sinagoga da sua terra desperta a atenção da assembleia a ponto de todos fixar nele o olhar. A que se deverá esta atenção expectante dos presentes e esta fixação convergente de olhares?
Ao facto de ser um conterrâneo recém-chegado a fazer a leitura, ele que regressava do rio Jordão onde se tinha feito baptizar, começando a sua vida pública? Ao texto escolhido e proclamado, certamente bem conhecido, pois faz parte do livro escrito por um profeta anónimo pelos anos 537-520 e colocado sob a autoridade de Isaías? À mensagem tão contrastante, então como agora, que convida a uma viragem interior completa: os desanimados para alimentarem a esperança, os abandonados para acreditarem que são reintegrados, os pobres e oprimidos para confiarem na libertação que se aproxima? Ao jeito e à posição de Jesus que atraía e insinuava a boa notícia contida na passagem anunciada?



A admiração da assembleia cresce visivelmente quando Jesus se senta e declara realizada a “velha” profecia: “Hoje, cumpriu-se esta passagem que acabais de ouvir”. As suas palavras cheias de encanto suscitam interrogações mais profundas.
A mensagem proclamada constitui o programa/manifesto da missão de Jesus. Lucas coloca-o no início da vida pública para servir de pórtico e facilitar a compreensão de tudo quanto vai dizer e fazer. Esta declaração emblemática destaca a centralidade da pessoa e a circunstância em que vive, o amor de predilecção que Deus tem por cada uma e por todas, o alívio do sofrimento e da humilhação, a recuperação da dignidade perdida pelo pecado pessoal, a reposição da igualdade original simbolizada no ano da graça jubilar.

Esta boa notícia é anunciada aos pobres despojados dos seus bens pelos poderosos e ricos, aos humilhados e às vítimas inocentes da história. É preciso fazer justiça. Só assim, a vontade de Deus se realiza e manifesta na igualdade de todos os humanos, seus filhos. É preciso, como medida inicial, reduzir as desigualdades sociais do mundo e caminhar decididamente na direcção apontada por Jesus. É preciso que o amor seja mais forte do que o dinheiro/capital e provoque a equidade justa em todas as situações.

O evangelho/boa nova não é evasão da realidade. É antes o anúncio alegre e auspicioso da humanidade chamada a realizar a sua vocação plena, a contemplar de “olhos” abertos a dignidade, a liberdade de todos e de cada um, a ser mensageiros de Deus amigo e não concorrente do homem/mulher na busca da verdade, do bem, da vida feliz. A profecia começa a ser cumprida. Agora tem de ser prosseguida. Em Nazaré, os olhos estavam fixos em Jesus. E hoje estão nos cristãos, seus discípulos.       

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