Georgino Rocha
Pergunta simples que manifesta a vontade da coerência de atitudes com a descoberta da verdade. Pergunta feita, não individualmente mas em conjunto, por multidões, publicanos e soldados que se dirigem a João Baptista. Pergunta que desvenda a eficácia do anúncio da Boa Nova, a força do testemunho de João e a acutilância da sua palavra.
A resposta, segundo narra Lucas, sai pronta e assertiva: repartam os bens, pratiquem a justiça, amem e promovam a paz. Ontem, como hoje. Àqueles que a ouvem nas categorias apresentadas segundo a organização social de então ou em linguagem mais do nosso tempo: os homens da violência e da guerra, os profissionais da máquina administrativa e da fiscalização legal, os reguladores dos circuitos comerciais e respectivos produtos.
Hoje, face à escassez crescente de bens para uns e o acumular de riqueza para outros, repartir é a palavra de ordem portadora de boas notícias; face à corrupção e à fraude, a verdade e a honradez constituem imperativo ético e jurídico; face a comportamentos individuais e insensibilidade de minorias abastadas urge contrapor atitudes solidárias, fruto da consciência crítica e libertadora.
A sábia resposta de João levanta uma dúvida ao povo ouvinte. Não será ele o Messias? A expectativa era enorme e fazia parte do património de esperança de Israel. Não, não sou – responde sem reticências. E, em jeito de esclarecimento, adianta: “está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias”.
O olhar e o coração dos ouvintes convergem agora naquele que é a novidade de Deus, que vem “joeirar” os corações, e destrinçar o trigo do bem e a palha do mal, baptizar com o fogo do Espírito Santo. João cede o lugar a Jesus que credencia aqueles sinais e lhes dá um novo alcance, o de serem sinais/acontecimentos de salvação.