Eugénia Pinheiro |
para uma pedagogia mais ativa
Em dia sem aulas da parte da tarde, assistimos ao corrupio de trabalhadores que ultimavam as obras de remodelação geral e ampliação do edifício da Escola Secundária da Gafanha da Nazaré (ESGN). Fomos a convite de um professor, António Rodrigues, para conhecer a dimensão e a qualidade da nova escola, enriquecida por moderna arquitetura e tecnologias avançadas, que representam, sem margem para dúvidas, uma mais-valia no campo pedagógico-didático, numa perspetiva de formação e educação mais completas, numa altura em que se regista, na sociedade em mudança, uma inversão dos valores, a nível comportamental.
A ESGN passou recentemente a sede do Agrupamento das Escolas da Gafanha da Nazaré. Será um mega-agrupamento, que terá vantagens e desvantagens, no dizer de Eugénia Pinheiro, presidente da Comissão Administrativa daquele Agrupamento. «Uma desvantagem é a perda do sentido de proximidade, uma vez que os professores trabalham muito na base das relações humanas», disse. E mesmo na gestão, «a proximidade é fundamental, até porque, na hora, com uma palavra se resolve uma série de questões», esclareceu.
Sala de convívio |
Sobre as vantagens, a nossa interlocutora adiantou que num mega-agrupamento «todos temos de pensar globalmente, no pressuposto de que assumimos as mesmas responsabilidades». Contudo, esse caminho, «que tem vindo a ser explorado», só poderá atingir a plenitude «quando acabarem os nossos ressentimentos interiores». Assim, num mega-agrupamento, existe de forma mais vincada a corresponsabilidade pelo percurso das crianças e jovens, desde que entram na pré-escola até ao fim da escolaridade obrigatória. Agora, adiantou, «não haverá mais razão para os professores de cada ciclo acusarem os do ciclo anterior do que fizeram ou não fizeram».
Parque de bicicletas |
Eugénia Pinheiro defendeu, com ênfase, «a necessidade premente de famílias e escola se articularem, de uma vez por todas, para bem das crianças e jovens». E sublinhou: «Neste momento, é fundamental que a família venha à escola e que a escola se aproxime da família; o grande problema é que a família não vem e, quando vem, só o faz para pedir ajuda para resolver questões resultantes da sua falta de capacidade ou de capacidade limitada».
A presidente do Agrupamento frisou que há «um número significativo de pais que se sentem incapazes de lidar com os filhos», concluindo que «a escola não tem na família um aliado», o que prejudica seriamente a formação integral dos alunos.
Reportando-se à crise que Portugal, e não só, atravessa, Eugénia Pinheiro adiantou que espera não haver crianças mal alimentadas no Agrupamento, referindo, porém, que há orientações no sentido de se fazer o levantamento das situações, para se dar um reforço alimentar, gratuitamente, a meio da manhã e a meio da tarde, a todos os alunos que os diretores de turma identificarem como carentes de apoio.
Sala de convívio |
A nossa entrevistada admitiu que há dificuldades económicas, mas também sabe que há famílias «que não se preocupam se a criança comeu ou não comeu», notoriamente, por «falta de organização familiar». «Hoje, até parece que ninguém se preocupa em preparar um pãozinho para a criança levar para a escola», garantiu.
Eugénia Pinheiro denuncia que há pais que não cuidam das suas obrigações de requerer, por exemplo, os subsídios, «nem sequer preenchem os papéis para a inscrição nos serviços oficiais». E informou que, na tentativa de convencer os pais a participarem nas reuniões, as mesmas serão marcadas para o fim do dia, para que ninguém possa alegar falta de tempo. E se não podem num dia, «a escola faculta outros dias», adiantou.
Sala de aulas |
Questionada sobre a cooperação mútua entre Escola e comunidade, a presidente do Agrupamento sublinhou que, no âmbito empresarial, tem havido uma cooperação muito positiva, tendo em vista a garantia de estágios para os alunos dos cursos profissionais. E quanto à proximidade com instituições sociais, afirmou que a Fundação Prior Sardo faz parte do Conselho Geral da ESGN. E acrescentou: «Agora podemos preparar alunos para todas áreas profissionais, porque contamos com as empresas para os estágios.»
Eugénia Pinheiro insistiu na ideia de que a crise mais preocupante será ao nível dos valores, esclarecendo que «poucos são os professores que conseguem entrar na sala de aula de cara alegre: isto não é uma crítica à classe docente, mas uma constatação real». Porém, logo afirmou que não há registo de «violência contra os professores, mas há entre os alunos casos latentes de “não quero passar”, “não quero trabalhar”, “se não incomodar não estou a fazer mal nenhum”. E frisou: «Não está, realmente, mas não fazer nada já é incomodar.»
Fernando Martins
Fernando Martins