O meu presépio |
O meu presépio
O presépio foi, durante muito tempo, o ícone da cristandade. No meio rural, onde nasci e cresci, foi, em grande parte do século passado, uma grande manifestação de religiosidade popular e da imaginação, arte infantil.
Quando chegava Dezembro, apareciam, à janela da sala do Senhor, em cascata são-joanina, as principais figuras evocativas do nascimento de Jesus, em Belém. Montado em palanques, para que pudesse ser avistado, do exterior, expressava a crença do povo, num Menino que nascera em palhinhas e seria o salvador da humanidade.
Fiel às tradições que incorporei, na meninice e preservando a beleza que acompanha esta arte popular, também eu faço, todos os anos, o meu próprio presépio.
Ali, mesmo à entrada da casa, no jardim, a sagrada família contempla o Menino, envolvido pelo bafo dos animais. Não está debaixo de telha, como reza a tradição, num estábulo, sobre terra batida. Passados vinte e um séculos sobre o acontecimento, houve necessidade de adaptar ao nosso tempo, as condições desse precário alojamento. Assim, a alcatifa de musgo, muito abundante nas Gafanhas e causadora de problemas para a saúde, como o desenvolvimento de fungos, (!?) foi substituída por um pavimento de cerâmica, mais higiénico, de fácil lavagem e refractário ao aparecimento de germens. Não teria aqui, ponta por onde pegar, a ASAE, se cá viesse meter o nariz!
A qualidade da construção vai evoluindo e neste século XXI, há materiais inovadores e muito atrativos, consentâneos com a nobre estirpe desta criança! Proporcional ao tamanho do bebé, foram colocados ladrilhos minúsculos, de forma hexagonal, da cor que as mamãs escolhem quando vão ter um menino! Maria deve ter gostado da escolha do azul bebé... como qualquer mãe que se preza e prepara o enxoval para o nascituro.
Não há um teto de colmo a proteger o Menino, mas a estrelícia ali ao lado, em ampla floração no momento, abraçada ao hibisco, com flor vermelha, defendem a criança de qualquer predador. Não vão confundi-lo com algo comestível... aquele pedacinho de barro, sob o olhar enternecido dos progenitores.
Aquele Menino, que nasceu em condições tão humildes, viria a declarar-se uma criança sobredotada, com o decorrer do tempo. Rezam as Escrituras, que na sua tenra juventude, entrava na sinagoga, onde interpelava os doutores da lei, com questões pertinentes e de tanta sabedoria, sem ter feito o doutoramento, em qualquer área do conhecimento, como acontece nos nossos dias.
Transposto para os dias de hoje, nas nossas escolas, onde pulula tanta casta de gente, também alguns frequentadores desse espaço, interpelam os seus “s’ôres”, com igual ousadia e à vontade... para os questionarem, sobre a razão, porque não deram “feriado”! Só esta palavra se mantém inalterável na sua conotação pedagógica, desde os áureos tempos da década de 60, do século passado, em que eu estava no papel deles! Contrariando Camões, eu diria que “ Mudam-se os tempos”... mas não se mudam algumas palavras! Como a teacher gostaria de ter seres da natureza superior deste Menino, nas suas aulas, a avaliar o seu desempenho!
Por isso, nada é excessivo, para fazer jus, à realeza da sua linhagem.
E… a autora destas linhas... é... de Jesus de Almeida!
M.ª Donzília Almeida
10.12.2012