PROIBIDO PERDER!
António Marcelino
Fiquei a pensar que a profissão menos estável, neste momento em que tudo é instável e mais ainda o trabalho profissional, parece ser a de treinador de futebol. Nos clubes ricos perde-se à noite e, na manhã seguinte, o treinador está despedido.
Não se pode perder nunca e em nada. Somos um mundo de super-homens. Perder deixou de ser motivo de reflexão, de procura de causas e de novos caminhos, de normal compreensão da dimensão humana e do ritmo normal de aperfeiçoamento que até a natureza nos ensina com a queda da folha e o desabrochar, a seu tempo, de novos rebentos.
Sempre o ritmo da vida passou pelas fases dos êxitos e dos fracassos. Porque a vida para todos é procura, conquista, desbravar de caminhos, desenvolver de capacidades, saltar obstáculos. Não de maratonistas à primeira tentativa, mas de corredores normais que se vão revelando e às suas potencialidades. Considerar-se à partida vencedor é correr o risco de nunca o conseguir ser, porque facilmente se desiste desiludido.
Uma pessoa com deficiências visíveis pode ir longe se for estimulado e ajudado a lutar. O “treinador de bancada”, sempre o mais exigente, só sabe assobiar, gritar e chamar nomes à mãe do árbitro.
Uma falha, aceite com normalidade e humildade, é impulso a ir mais longe. Mas, se no país abundarem os anões que precisam de estrado para serem vistos, então, à sua volta ninguém pode crescer, porque, se tiverem o poder não deixam mesmo que ninguém cresça.
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