Sandra Costa Saldanha
“Quando a Igreja chama a arte a apoiar a própria missão, não é só por razões de estética, mas para obedecer à ‘lógica’ mesma da revelação e da encarnação”. Palavras do Santo Padre João Paulo II, destacando a importância do património artístico na expressão e na inculturação da fé. Valorizar essa herança - a face material de uma beleza indizível - significa, pois, perpetuar a dimensão própria da obra de arte cristã.
Mas como a olhamos, mostramos e utilizamos? Leitores acostumados, mesmo os menos permeáveis à mensagem da fé, todos somos interpelados a atuar. Todos usufruímos desta herança, que nos compromete a deixar para o futuro o que também outros nos legaram.
Analisar sectariamente o património eclesial, é privá-lo da sua razão de ser, do seu sentido vivencial e celebrativo, apartado de um diálogo fecundo, que se deseja radicado na essência da experiência religiosa e da produção artística. Na superficialidade do seu entendimento, na inércia de uma atuação desconcertada, pode mesmo entroncar a insuficiência da criação contemporânea.
Uma ideia simples, mas basilar, tem sido repetidamente evocada pelo Conselho Pontifício da Cultura: tornar as igrejas abertas. Em recente texto de opinião, também D. Pio Alves o questiona assertivamente: não transmitirá a ideia de que a Igreja “fechou as portas”, este “triste espetáculo” dos templos habitualmente fechados?
Prever “uma pastoral dos edifícios” (pelo menos dos mais frequentados), incentivando a fruição das obras e oferecendo aos visitantes uma leitura adequada da mensagem de que são portadores, é fundamental. Mais do que fechá-los a sete-chaves. Tarda, contudo, a assumir-se responsavelmente entre nós.
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