Cozinha do Mosteiro
Neste dia em que se evoca a arquitetura mundial, vem-me à memória o monumento que visitei, na minha 1ª visita de estudo, em 1958, que. na altura, tinha um nome menos pedagógico (!?): passeio da escola. Com a avidez de conhecimento, aliada à curiosidade infantil, absorvi-lhe toda a pedagogia!
O Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça é a primeira obra, plenamente gótica, erguida em solo português. A sua construção começou em 1178, pelos monges de Cister. Está classificado como Património da Humanidade pela UNESCO e como Monumento Nacional, desde 1910, pelo IPPAR. Em 7 de Julho de 2007, foi eleito uma das sete maravilhas de Portugal. Em 1834 os monges foram obrigados a abandonar o mosteiro, na sequência da expulsão de todas as ordens religiosas de Portugal, durante a administração de Joaquim António de Aguiar, um primeiro-ministro conhecido pela sua política anti-eclesiástica. Como se há-de classificar o nosso?
De muito tenra idade e pouco habituada a viajar e conhecer mundo, visualizo, com enorme nitidez, aquilo que mais me impressionou em todo o mosteiro – a cozinha medieval! Situava-se a ocidente do Refeitório, contígua a este, como garante de funcionalidade. Terá sido construída no século XVIII, altura da construção do Claustro de D. Afonso VI, conservando-se somente a porta de traça românica
Com uma chaminé e lareira enormes, onde se podia assar um boi inteiro, mesmo ao lado havia um alçapão, por onde corria um curso de água, um braço do rio Alcoa. Deduzi, logo, que era o lava-louça dos monges, que bastava baixarem-se um pouco para lavarem a louça. Admirável! Que sentido prático tinham os arquitetos da época! Aqui se podia confirmar a filosofia de Heraclito! Nenhum frade lavava os pratos, duas vezes na mesma água! Que elevado conceito de higiene! Enxaguava e passava logo por água limpa. Espetacular, pensava eu! O meu sentido pragmático estava ali à prova!
A minha imaginação recriou-me, durante toda a vida, a imagem de uma cozinha semelhante, com este sistema avançado e despoluído de água canalizada, na banca de trabalho. Com esta super funcionalidade! Supera as cozinhas Miele, da nossa era!
Nunca mais me abandonou essa imagem de um avanço tecnológico insuperável! Muito antes de haver água canalizada, nas habitações, já os Monges de Cister tinham inventado este sistema super avançado de água corrente! Nem era preciso abrir a torneira, não era preciso fechá-la....nem era preciso pagar a despesa, no fim do mês, à AdRA! Rentabilização excelente dos recursos naturais E diz-se o homem contemporâneo muito inteligente, muito avançado tecnologicamente! Com a panóplia de meios disponíveis, nem causa grande espanto.
Estes trabalhos de engenharia hidráulica superam na minha mente, tudo e todos, nesta era da ciência e tecnologia avançadas!
Hoje, em minha casa, tenho, na cozinha, um arremedo do que aqueles monges construíram - uma torneira que deita água, sim, mas que tenho de abrir e fechar após cada utilização! Que maçada, viver no século XXI!!! Não arranjei um arquiteto que me construísse a casa sobre o leito de um rio......como queria! E.... água, aqui não falta, graças a Deus!
Ah! Mas a minha casa de sonho, construída sobre o leito de um rio.....existe no coração do Minho! A “Casa do Moinho”, cujo nome provém da existência dum moinho, nos fundos, é o expoente máximo da sucessão do Mosteiro de Alcobaça. Fica na Trofa, entre o Porto e Vila Nova de Famalicão. Conheço bem a zona, onde vivi e sempre que lá passo, faço uma pequena paragem para apreciar aquela obra de arquitetura nortenha.
É tão bonita a casa e com uma área envolvente de terra cultivada e tudo tão primorosamente arranjado.....que me enche a alma de beleza bucólica. E, tal como a minha moradia, não é uma obra de arquitetura do século XII, mas são ambas do remoto século XX!
03.10.2012