A atracção do homem pela mulher e desta para com ele faz parte da natureza humana e expressa-se, segundo as culturas e as religiões, normalmente no matrimónio. Aponta, por isso, para Deus, a fonte de todo o amor e o criador dos bens originais. É a partir do projecto divino que a relação humana conjugal tem pleno sentido e adquire força de irradiação como ideal a atrair todos aqueles que se sentem chamados a “ser uma só carne”. É a partir desta matriz existencial que se podem valorar outras experiências de relacionamento que configuram aquela atracção natural.
Jesus anda em missão por terras da Galileia e Judeia. Saem-lhe ao encontro alguns fariseus que pretendem “entalá-lo” e arranjar um motivo de acusação. Lançam-lhe a pergunta ardilosa sobre o divórcio entendido como acto de generosidade do homem para com a mulher com quem estava casado. A pergunta manhosa responde Jesus com pergunta de “garrote”. Os fariseus deviam conhecer bem as sentenças de Moisés. E sabiam que, em certos casos, era permitido passar um certificado de divórcio. De facto assim acontece. Respondem “certinho”. E Jesus explica o proceder de Moisés e re-situa a relação conjugal na sua matriz original.
O repúdio da mulher pelo homem e deste por ela é fruto da “esclerose” do coração, da dureza e secura dos sentimentos e gestos que asfixiam o amor, do progressivo distanciamento e frieza nas relações afectivas que forçam a agonia de qualquer “interesse” conjugal. Jesus constata, não condena. Mas anuncia a beleza do matrimónio vivido segundo o projecto de Deus confiado ao homem e à mulher, sua imagem e semelhança. Duas pessoas sexualmente diferentes chamadas à unidade complementar de “uma só carne”, isto é, de assumirem a alegria da doação mútua, de viverem a construir um nós na realização de cada um e na fecundidade do casal, de transmitirem a vida que acolheram com tanta disponibilidade.
A família surge como o fruto mais saboroso do matrimónio. Nela, o casal vai crescendo no amor de doação fiel. Nela, os filhos encontram o ambiente favorável à sua identidade masculina e feminina, ao equilíbrio do seu desenvolvimento relacional e afectivo. Nela, a sociedade e a Igreja se espelham na sua acção “subsidiária” e recebem as crianças, prendas do presente e garantes do futuro, como cidadãos que podem vir a ser cristãos.
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