sábado, 21 de julho de 2012

VINDE COMIGO E DESCANSAI


Por Georgino Rocha




“Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco” é o apelo e a recomendação de Jesus, após ter acolhido e ouvido os discípulos regressados da primeira experiência missionária. A narração do que acontecera deixava perceber que a missão decorrera bem. As instruções tinham sido observadas. A confiança na palavra do Mestre estava confirmada. O êxito enchia de alegria contagiante o coração de todos. A sobriedade de meios, a simplicidade de vida, a itinerância doméstica, a eficácia do anúncio, a libertação do espírito oprimido pelas forças do mal são credenciais comprovadas e adquirem valor distintivo de quem é discípulo de Jesus em qualquer circunstância.

Marcos – o autor deste relato – condensa a atitude do Mestre no apelo à união fraterna e na recomendação ao descanso revigorante. “Vinde comigo” e tomaram a barca a fim de fazerem a travessia do mar de Tiberíades, rumo à outra margem. A travessia converte-se de facto real em símbolo da trajectória humana ao longo da vida, em expressão da evolução do mundo interior de cada um, em sinal da maturidade alcançada por quem deseja saber conviver em sociedade e transmitir uma herança valiosa às gerações vindouras, em ícone da Igreja peregrina, inserida na história, próxima de todos, que sabe comtemplar e agir “a tempo e fora de tempo”, como testemunha São Paulo.

A barca ia deslizando sobre as águas e os discípulos saboreando o ambiente repousante na companhia do Mestre. O percurso terá sido o espaço do descanso. Não tanto físico, mas psicológico e espiritual. Constituem dimensões fundamentais de um repouso consistente e gratificante: o estarem juntos, na companhia do Mestre, partilhando experiências e ouvindo comentários de apreço e valorização, o dialogarem sobre expectativas que alimentam sonhos e criam impulsos de aventura audaciosa, o verem-se confirmados no desempenho da missão confiada e, sobretudo, o de serem reconduzidos à fonte da verdadeira alegria – Deus que tem o nome de cada um inscrito no seu livro de bênção.

Marcos deixa-nos o núcleo principal de umas boas férias vividas à maneira humana, de forma integral. Manifesta que o activismo é esgotante, que o barulho das multidões é enervante e alienante, que a natureza da vida tem ritmos marcantes para o seu equilíbrio, que a escolha de espaços agradáveis, cheios de luz e silêncio, de ar puro e sol aberto, proporcionam bom ambiente e excelente oportunidade, que o reencontro de cada pessoa consigo mesma e a pacificação do seu espírito – sempre desejados e nunca plenamente alcançados - expressam a qualidade das férias pretendidas e, como acontece com os discípulos de Jesus, vividas com alegria serena e confiante.

O descanso faz parte da dignidade humana, manifesta a semelhança original do homem com Deus – ao séptimo dia, Deus descansou - e aponta para o futuro definitivo – felizes os que morrem no Senhor, desde agora descansam em paz porque as suas obras os acompanham – garante o Apocalipse. O descanso convida à contemplação da beleza e da bondade, à experiência fruitiva do lazer, à valoração da sabedoria, ao crescimento humano, à satisfação das carências fundamentais a fim de alcançar uma personalidade amadurecida.

O lazer – expressão qualificada do bem-estar humano – pode ser alcançado de formas diversas: leituras amenas, exercícios físicos e espirituais, convívios agradáveis, férias de distensão, práticas desportivas, passeios e excursões, reuniões familiares, celebrações festivas, designadamente as do domingo e a participação na assembleia eucarística, memorial do amor com que Deus nos ama.

O descanso e o lazer são vitais para a pessoa cultivar o seu ser integral. Fazem bem ao corpo e ao espírito. O exemplo de Jesus constitui o gérmen das férias dignas da condição humana que a história veio a consagrar em direito e que a legislação laboral vem delimitar. Oxalá que acertadamente para todos!

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