segunda-feira, 16 de julho de 2012

Passeio de fim de ano à Capital da Cultura

Por Maria Donzília Almeida




"O professor disserta sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
Cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudi-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz,
Com medo de acordá-lo."

Carlos Drummond de Andrade


Para acabar em beleza, realizou-se o passeio de final de ano, no passado dia 13, como forma de encerrar as atividades do ano letivo, 2011/2012.
Este ano, o destino escolhido foi consentâneo com a nossa história e com o evento que decorre no Alto Minho.
Muito cedo, para desfrutarmos de um dia longo e bem preenchido, partimos da Gafanha às 7 h da manhã, rumo ao berço da nossa nacionalidade – Guimarães. O tempo prometia cumplicidade com o cansaço e a expetativa dos “turistas”!
A viagem decorreu sem incidentes e depressa nos colocámos na bela e antiga cidade de Guimarães. Parece que uma fada passara ali a sua varinha, pois a cidade airosa e fresca, ostentava um rosto lavado e o arranjo meticuloso dos seus jardins. Decerto, a autarquia providenciara para que a receção ao alto posto de capital europeia da cultura, fosse bem sucedida e acolhesse os forasteiros com graça e um aspeto de casa arrumada.
Cumprindo a parte cultural, (as visitas de estudo não se destinam só às criancinhas), tivemos o nosso primeiro momento, nesse âmbito, na visita que fizemos à fábrica Cutipol. Aí, pudemos observar atentamente e ouvir com interesse, as explicações do guia, sobre a linha de produção da cutelaria portuguesa. Constatámos a minúcia e a sequenciação das diversas fases por que passa o fabrico de uma colher, um garfo, uma faca e todas as peças que compõem um faqueiro. Tanto trabalho, para podermos comer, à mesa, como gente civilizada, demarcando-nos dos nossos antepassados da idade da pedra que usavam o sílex para as mais diversas finalidades, inclusive, a preparação de alimentos.
No fim da visita e perante o produto acabado, as senhoras, mas também os cavalheiros (!!), apreciaram a beleza e requinte das peças reluzentes, algumas douradas! Regalo para a vista! O preço..........proporcional ao esmero, inversamente proporcional ao poder da bolsa! Tempo de crise...!
Em seguida, fomos, em pequenos grupos, fazer o reconhecimento do centro histórico, em que se sentia o cuidado, o detalhe das ornamentações das vitrines de acordo com o símbolo da cidade em festa – o coração! Nas mais diversas formas, com toda a imaginação de designers e criadores de moda, lá estavam em tudo quanto era canto e esquina. As ruas primavam pela limpeza e asseio, convidando para um passeio pedonal. O Astro-rei abençoava-nos com o seu afago.
Feito o exercício físico para despertar o apetite, há que saciar as necessidades do corpo.
“Nos mais pequenos frascos, vêm os melhores perfumes!” – retorquiu o empregado do restaurante, caloroso como sabem ser os brasileiros, quando a minha “gula”..........se pronunciava sobre a exiguidade daquele toucinho do céu, num formato redondo, diferente da sua tradicional apresentação em fatia de pudim!
Aprendi mais uma coisa, que acrescentei ao meu cardápio cultural, ali no Berço..... Aprender até morrer...........é o lema de qualquer professor, que por isso, se mantém jovem!
De facto, o doce, aparentemente exíguo, estava na medida certa! Mais....seria enjoativo! Olhos maiores que barriga!
À hora marcada, rumámos ao ex-libris da cidade de Guimarães, o seu castelo! Já visitado “n” vezes, até quando morei no meu adorado Minho, mais uma vez calcorreámos as suas vetustas pedras que falam de histórias de príncipes e princesas e evocam o nosso passado monárquico. D. Afonso Henriques, tão marcante para a nossa identidade......de quem as mamãs, nesta era, usurpam o nome para os seus rebentos, ali marcava presença bem viva! Sentia-se em cada ameia do castelo, a espreitar, ao longe a aproximação do inimigo.
Quem se chegou a nós, ao grupo de pessoal da Gafanha, foi o corpo de animadores de rua, recriando os trajes medievais, nos seus adereços......e aí....a festa começou!
A animação de rua é, por natureza, uma actividade de carácter informal, adaptável a diferentes circunstâncias, ambientes e objectivos.
Ao longo do espetáculo, o grupo interage com o público, num ambiente de cordialidade. O resultado é uma fusão entre o tradicional e o burlesco, fazendo o público viajar até ao nosso imaginário coletivo.
Assim, um grupo de pantomineiros, trajados com túnicas, coifa e sapatos de biqueira fina revirada para cima, à boa maneira medieval, esperavam-nos na entrada principal do castelo. Ao som da gaita de foles e da flauta, deram as boas-vindas aos visitantes e numa linguagem da época, cheia de brejeirice e vernáculo fizeram-nos embarcar na vida da corte!
Como o pessoal estava numa de desopilar e após a refeição do almoço, para ajudar à digestão, fomos convidados a fazer o tiro ao alvo com arcos e flechas a simular a época medieval. Dado que as armas com que lutamos contra a ignorância e o analfabetismo, são outras, entrámos euforicamente no jogo, e....atirámos, atirámos e...........acertámos no alvo, a maioria das vezes. Claro que será necessário dizer, que para isso contámos com a ajuda dos “professores”, que tiveram tanta paciência connosco! Tanta, quanta temos com os nossos aprendizes! Nesta aula prática, houve muito boa disposição e houve espetáculo! Nós fomos os figurantes!
De seguida, foi recriada uma cena de peleja, em que os participantes lutavam com espadas enormes............feitos de espuma de nylon! À cautela, foram dadas instruções precisas, para se evitar “ferimentos” e outros danos físicos! As escaramuças fizeram a hilaridade geral dos espetadores, que aplaudiam efusivamente, perante a coragem e valentia dos voluntários “pelejadores!
Por fim, numa encenação teatral, com muitos “atores voluntários”, foi feita a recriação da princesa que fora agrilhoada e clamava por libertação. Reclamava-se um cavaleiro nobre que ousasse vencer o inimigo!
Sem dúvida, a evocação da vida e costumes da idade média, foi ali entretecida, numa fiel homenagem à Condessa Mumadona Dias, séc. X, figura dominante na cidade.
Já a tarde ia alta, quando, no regresso, rumámos às caves Burmester, em Vila Nova de Gaia, onde, como é da praxe, degustámos, no remanso da cultura do vinho do Porto, o delicioso néctar de um vintage! Sentados, num ambiente de descontração total, à medida que o saboroso líquido descia pela garganta, a conversa fluía....fluía.....sem entraves de qualquer inibição....a confirmar o aforismo latino: “In vino veritas!”
Aqui, sim, foi o fecho com chave de ouro, de todo o programa de “terapia de grupo”, que o diretor da nossa escola proporcionou aos seus fiéis colaboradores. É exigente, como convém para edificar uma escola de qualidade, tal como fazem os bons leaders, mas também se empenhou em nos proporcionar um ótimo programa. Afinal, amor com amor se paga e todos ficaram bem gratos ao seu jovem diretor.
Apenas um pequeno desaguisado, minúsculo (!?), marcou a nossa relação desde a fundação da escola. Apesar de navegarmos, no mesmo barco, de lutarmos contra os mesmos piratas e ”piratinhas”......de almejarmos chegar a bom porto, não consegui, nunca, que me tratasse, a mim, por “tu cá...tu lá...”. “A idade é um posto”- dizem......e ele respeita a hierarquia!
15.07.2012
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