sexta-feira, 8 de junho de 2012

Para além da devoção, um caminho sempre aberto


Por António Marcelino




«É bem manifesto que a nada o povo cristão será tão sensível que ao amor e devoção a Maria, Mãe de Jesus. Não há pequeno ou grande templo onde não se encontre uma sua imagem de seus diversos títulos e invocações. O mesmo se passa nas casas de família. A compreensão de que “se vai a Jesus por Maria” deve partir desta realidade devocional para revelar os mistérios da salvação e estimular no caminho andado por Maria, fiel à vontade de Deus Pai e à identificação com o seu Filho, no cumprimento do seu desígnio de amor redentor, gratuito e universal. Maria é sempre Mãe e Mestra.» 

Mal se pode imaginar que pudesse ter sido tão vivo o debate conciliar e a procura afanosa de apoio às posições em confronto, quando se procurou o lugar a dar a Maria, Mãe de Jesus, nos documentos do Vaticano II. Todos os padres conciliares queriam dar-lhe o maior relevo. Uns defendiam que devia dedicar-se-lhe um documento próprio. Outros, que devia ser considerada como membro privilegiado e eminente do Povo de Deus, constituindo assim um estímulo vivo para todos os membros da Igreja. Houve bispos que pediram aos seus diocesanos orações especiais a favor da sua posição. Por fim, todos acabaram por reconhecer que a solução encontrada, ou seja, a integração, com um capítulo próprio, na Constituição sobre a Igreja, fora realmente a melhor. 
Maria sempre teve, ao longo de séculos, um lugar especial na história da Igreja e na vida dos crentes, em virtude da escolha que Deus fez dela para ser a Mãe de Jesus e da proteção encontrada pela sua maternal intercessão. Ela mesma, na sua humildade, profetizou no Magnificat, ao dizer, porque Deus fizera nela grandes coisas, que todas as gerações a proclamariam bem-aventurada. 
A Constituição sobre a Igreja propõe, ao terminar, uma reflexão em ordem à compreensão do lugar de Maria, no mistério de Cristo e da Igreja. Uma reflexão longa e clara, onde a teologia mariana se desenrola como afirmação e estímulo, como certeza e esperança, como caminho aberto para dar sentido ao culto que se lhe presta. 
Paulo VI publicou, em fevereiro de 1974, poucos anos depois do Concílio, uma Exortação Apostólica sobre o Culto Mariano, na qual, de modo elucidativo, ajuda a Igreja a entender bem o sentido da devoção à Mãe de Deus. É esta uma condição necessária para purificar exageros existentes e desvios de doutrina, que mesmo que exprimam amor e devoção, também, em muitos casos, dizem de uma fé pouco esclarecida. Nesta Exortação o Papa sintetiza em três pontos o sentido do culto a Maria: louvor e gratidão a Deus pelas graças e dons que lhe concedeu, imitação das suas virtudes e confiança no seu apoio e proteção maternal. 
Os comentários semanais feitos aos textos conciliares, mais que tocar em todos os aspetos dos seus conteúdos e orientações, o que não seria possível, orientam-se para estimular a leitura e o conhecimento cuidado dos documentos. Para muitos cristãos estes são, ainda hoje, desconhecidos. Para muitos outros, precisam de uma atualização de memória, que possa influir no agir pastoral e na vivência pessoal, em ordem à vida e renovação das comunidades e dos grupos apostólicos. 
Maria é inseparável de Jesus Cristo, seu Filho, e da sua missão redentora universal. Por isso mesmo, inseparável, também, da Igreja e da sua missão até ao fim dos tempos. Desta Igreja de que foi proclamada, de pleno direito, Mãe e Rainha. 
É bem manifesto que a nada o povo cristão será tão sensível que ao amor e devoção a Maria, Mãe de Jesus. Não há pequeno ou grande templo onde não se encontre uma sua imagem de seus diversos títulos e invocações. O mesmo se passa nas casas de família. A compreensão de que “se vai a Jesus por Maria” deve partir desta realidade devocional para revelar os mistérios da salvação e estimular no caminho andado por Maria, fiel à vontade de Deus Pai e à identificação com o seu Filho, no cumprimento do seu desígnio de amor redentor, gratuito e universal. Maria é sempre Mãe e Mestra.

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