sábado, 9 de junho de 2012

JESUS ANUNCIA UMA NOVA FAMÍLIA

Por Georgino Rocha





Jesus começa a ver o resultado da fase inicial da sua missão. O número dos que o acompanham é já multidão. O vigor físico cede lugar à fadiga e à fome. Os lugares públicos, as aldeias e os campos, são “momentaneamente” esquecidos e abandonados. Surge a casa emblemática da sua nova residência em Cafarnaum, como espaço-abrigo e local de missão, como símbolo da realidade que estava a germinar, como indício da família “em gestação” constituída por laços originais únicos. 
A fama de Jesus atrai numerosas pessoas que recebiam com agrado a mensagem que lhes dirigia e ficavam admiradas com as obras que realizava. O estatuto social do Nazareno eleva-se acima do normal, atribuído a um artesão de aldeia. A relação de confiança entre o Rabi e os seus seguidores aumentava de forma visível e era publicamente reconhecida. O êxito parecia garantido, se ninguém travasse o dinamismo crescente. 

Os parentes de Nazaré, incomodados pelas notícias que chegam, saem à procura dele e pretendem trazê-lo para casa. Segundo os boatos postos a correr, Jesus adoptava condutas desviantes, práticas ilegais, atitudes irreverentes. Fazia “coisas” típicas das pessoas com demência clara, de quem enlouquecera e não pode responder pelo que diz ou faz. Também a Mãe e seus familiares vão verificar o que está a acontecer, dispostos a exercer o dever legal de fazer com que regresse a casa e realinhe o seu comportamento pelo que está preceituado. 

Os mestres da Lei, os escribas, acorrem a Cafarnaum vindos de Jerusalém. Trazem o diagnóstico feito e é conclusivo. Não negam o que Jesus faz, mas estabelecem uma parceria nova que explica o sucesso: a aliança com o demónio, a relação com Satanás que agia por meio do Nazareno a quem dotava de poderes eficazes. Reeditam, em versão requentada, o episódio das tentações ocorridas após o baptismo de Jesus e antes do início da vida pública. E, expectantes e contentes, aguardam o desfecho da acusação. Como possesso, o estatuto social de mestre desmorona-se; o comportamento desviado, confirma-se; o descrédito dos ensinamentos avoluma-se; e a missão de enviado de Deus para anunciar o seu desígnio de amor, fica anulada e desfeita.

Os processos de destruição de pessoas e das suas causas continuam com plena actualidade e, talvez, ainda mais sofisticados. Outrora como agora. Tanto em âmbitos familiares, como em instâncias religiosas ou na “arena” pública. A força do boato, o poder da intriga, a teia bem urdida dos interesses, a suspeita transformada em certeza no tribunal da opinião publicitada e tantos outros, constituem pontas emergentes desta realidade demolidora e complexa.

Jesus aproveita a provocação para revigorar as forças debilitadas e reafirmar a sua identidade. Faz um ensinamento maravilhoso e surpreendente. Mostra o contrassenso da parceria com o diabo. A missão de que está incumbido consiste em eliminar as forças do mal, curando não apenas os que sofrem e as suas consequências, mas em sanar a raiz donde provêm essas forças, em restituir a integridade original, reabilitando a dignidade de todos, sobretudo das vítimas de tais agressões Ele é o mais forte e, embora tenha de pagar uma factura de morte, sairá vencedor com o troféu da mais-valia humana de acordo com o sonho de Deus. 
Abre horizontes novos à família de sangue, apresentando a família por opção. Os que aderem à vontade de Deus estabelecem entre si um vínculo novo que fraterniza, responsabiliza e solidariza. 
Aderir e fazer a vontade de Deus é acolher quem peregrina na procura da verdade, abrir a porta a quem pretende entrar, dialogar com todos em ordem a satisfazer as suas necessidades mais profundas, libertando energias adormecidas e vencendo medos paralisantes. Fazer a vontade Deus é amar a comunhão e promover a reconciliação, transformando modos de agir em nome da justiça e da paz. A nova família de Jesus, a de opção livre espelhada em Maria e nos discípulos, é a Igreja, encarregada de ser testemunha fiel deste estilo de vida e de prosseguir esta missão com entusiasmo e encanto.

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