Por Maria Donzília Almeida
Sagres
A farda de marinheiro é um ícone que sempre condicionou a moda, quer no masculino, quer no feminino. Qualquer mãe terá na memória, os fatinhos, à marinheiro, com que vestiu os rebentos, na sua meninice. A minha prole não fugiu à regra e ainda hoje, guardo, religiosamente, esse fatinho que a avó, modista de profissão, se deliciou a fazer. A conjugação cromática do azul-marinho/branco foi, sempre, um casamento feliz! A mim, sempre me fascinou a farda de marinheiro, como a própria figura, imortalizada pelo cartoon, Popeye, the sailor man. O tal que comia espinafres para ter aquela força hercúlea!
A Marinha Portuguesa é o ramo das Forças Armadas Portuguesas que tem por missão cooperar, de forma integrada, na defesa militar de Portugal, através da realização de operações navais. Desempenha também missões, no âmbito dos compromissos internacionais assumidos por Portugal, bem como missões de interesse público.
Caravela do séc. XV, réplica
Inclui componentes não militares, responsáveis pelas áreas da autoridade e segurança marítima, a investigação e os assuntos culturais relacionados com o mar.
A Marinha Portuguesa é, também, referida como "Marinha de Guerra Portuguesa" ou como "Armada Portuguesa". Até à extinção do Ministério da Marinha, em 1974 os termos tinham diferentes significados. "Marinha" designava o conjunto constituído pela marinha mercante e pela marinha de guerra, ambas tuteladas pelo Ministério da Marinha. "Marinha de Guerra" designava a componente da Marinha dedicada à atividade militar. "Armada" designava o escalão mais elevado das forças navais, sendo, a Armada nacional, a totalidade das forças navais que constituíam a Marinha de Guerra da Nação. Assim, a Armada era, ao mesmo tempo, o ramo naval das Forças Armadas e a componente militar da Marinha. A partir de 1982, o ramo naval das Forças Armadas passou a ser, oficialmente, designado "Marinha", mantendo-se, contudo, o uso do termo "Armada" para designar alguns dos seus órgãos.
Couraçado Vasco da Gama, princípios do séc. XX
Tem uma história bastante antiga, que se liga à própria história de Portugal. A Marinha de Guerra Portuguesa é o ramo das Forças Armadas mais antigo do mundo, de acordo com uma bula papal. A primeira batalha naval da Marinha Portuguesa de que se tem conhecimento, deu-se em 1180, durante o reinado do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques. Foi ao largo do Cabo Espichel, quando uma esquadra portuguesa, comandada por D. Fuas Roupinho, derrotou uma esquadra muçulmana.
É o Rei D. Dinis quem decide, pela primeira vez, dar uma organização permanente à Marinha Real, em 1312, sendo nessa altura nomeado o primeiro Almirante do Reino, Manuel Pessanha.
Nau do séc. XVI
No final do século XIV, dá-se início à expansão ultramarina portuguesa que se irá manter até ao século XVI. A Marinha toma aí o papel principal, primeiro explorando os oceanos e depois combatendo as potências que se opunham ao domínio português. A partir de então, a Marinha Portuguesa passa a atuar em todos os oceanos do mundo, desde o Atlântico ao Pacífico.
Com o domínio espanhol, em 1580, a esquadra portuguesa é utilizada por Filipe I, para combater os inimigos da Espanha. Na sequência dessa atitude, os mais poderosos navios portugueses são incorporados na Armada Invencível, sendo muitos destruídos com ela. A partir dessa altura, a Marinha Portuguesa entra num período de decadência de que já só vai recuperar muito depois da restauração da independência em 1640.
No século XVIII, a Marinha Portuguesa floresce outra vez, até atingir o seu auge por volta de 1800. É nesse período que, sob o comando do Conde do Rio Grande, e obstinação do conde de São Vicente a esquadra portuguesa enfrenta a esquadra turca no Mediterrâneo que ameaçava o sul da Europa, na Batalha do Cabo Matapão em 1717.
A partir de meados do século XIX, a Marinha Portuguesa torna-se, essencialmente, uma Marinha Colonial, sendo a sua principal função o apoio às guerras de pacificação e ocupação dos territórios coloniais africanos.
Na 1.ª Guerra Mundial, a Marinha Portuguesa atua sobretudo na escolta dos comboios de tropas que se dirigem para África e para a França e apoia as operações contra os alemães no norte de Moçambique.
Durante a 2.ª Guerra Mundial a Marinha Portuguesa tem como função principal a garantia da neutralidade portuguesa. Nessa função, destaca-se a protecção do estratégico arquipélago dos Açores. No final dessa guerra, a Marinha participa na libertação de Timor da ocupação japonesa.
Com o início da Guerra Fria e a entrada de Portugal na NATO, a Marinha Portuguesa passa a dar prioridade à ameaça submarina do Pacto de Varsóvia.
A partir de 1961 a Marinha volta a dar novamente grande atenção a África, sendo parte activa na Guerra do Ultramar. Nesse período, dá-se uma enorme expansão do número de corvetas, navios de patrulha e lanchas de desembarque destinados a apoiar as operações anfíbias. Nesta guerra, destaca-se também a atuação dos fuzileiros navais, em operações de assalto anfíbio e de protecção de comboios fluviais.
Com o fim da Guerra do Ultramar em 1975, a Marinha Portuguesa torna-se, pela primeira vez, em quase 500 anos, uma marinha estritamente europeia, voltando a ter como atenção principal a ameaça naval soviética.
Desde o final do século XX, com o fim da Guerra Fria, a Marinha Portuguesa passou a ter como atenção principal o apoio às operações multinacionais e o combate ao terrorismo.
Diz-nos o conhecimento empírico, que navegadores, marinheiros e todos os homens do mar, em geral, são uma casta de gente destemida, intrépida, bem musculada (O Popeye tinha até duas tatuagens nos braços hercúleos!) e indómita! No entanto, são pessoas reservadas, com alguma dificuldade em extravasar os sentimentos. Nesta figura, quase mítica do marinheiro, na sua intimidade com o mar, esse handicap......reverterá em virtude, já que assim, dificilmente se deixarão enfeitiçar pelo canto das sereias!
Com toda esta aura de misticismo que envolve o homem do mar, bem poderia dizer-se que, vestido na elegante farda que a instituição lhe atribui, nos dias de hoje, poderia candidatar-se ao pedestal de Adónis!
Para fazer jus à vida de sacrifício, desprendimento e robustez, que são apanágio dos marinheiros, deve ser ressaltada e reavivada a epopeia dos nossos navegadores portugueses, que Camões tão bem cantou nos Lusíadas. Tal como os navegadores do século XV, também os marinheiros, da era moderna, encontram a recompensa, bem merecida, numa sempre atualizada “Ilha dos Amores”, em cada porto, onde lançam ferro! Assim reza a história! A de ontem e… a de hoje!
20.05.2012