Texto de Maria Donzília Almeida
Um monumento é uma estrutura construída por motivos simbólicos e/ou comemorativos, mais do que para uma utilização de ordem funcional. Os monumentos são geralmente construídos com o duplo propósito de comemorar um acontecimento importante, ou homenagear uma figura ilustre e simultaneamente, criar um objecto artístico que embelezará o aspecto de uma cidade ou local.
Criado precisamente a 18 de Abril de 1982, o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios tenta dar visibilidade aos monumentos e sítios (arqueológicos, bairros históricos, etc).
As comemorações decorrem este ano sob o signo da água. “Água: Cultura e Património” é o tema que serve de mote a este autêntico festival do património que se assinala a 18 de Abril. Um sem número de visitas, percursos e atividades gratuitas abrem as portas de alguns dos mais emblemáticos lugares da nossa história.
Para ilustrar este tema, poderia apresentar imagens famosas, que me fascinaram pela sua singularidade e beleza, como: o Big Ben, em Londres, a torre de Pisa, em Itália, O Taj Mahal, na Índia, a Muralha da China, o monumento a Gago Coutinho, na linha de equador, em S. Tomé e Príncipe, etc, etc
Em nome da nostalgia que começa a pesar, após uma semana de afastamento, do meu torrãozinho natal, vou ilustrar o texto com uma imagem que me é muito querida, muito familiar e eu diria até... fofa! Já que, hoje em dia, toda a gente maltrata a língua materna e faz dela a barbaridade dum (des)acordo ortográfico, eu atrevo-me a alargar o campo semântico da palavra “fofo”! Tem, para mim uma abrangência tal, que nele incluo: o meu cão, um ouriço-cacheiro, um golfinho, um embondeiro, um pretinho, e... até o (meu) Farol da Barra! É só procurar o atributo que melhor se encaixa no adjetivo!
O farol de Aveiro ou farol da Barra é o maior farol de Portugal. Fica localizado na praia da Barra, cidade da Gafanha da Nazaré, concelho de Ílhavo, distrito de Aveiro.
Foi, à data da sua construção, o sexto maior do mundo em alvenaria de pedra, continuando a ser, atualmente, o segundo maior da Península Ibérica, estando incluído nos 26 maiores do mundo. É uma torre troncónica, com faixas brancas e vermelhas e edifícios anexos. Foi construído no século XIX, mais propriamente, entre os anos de 1885 e 1893, tendo sofrido grandes reparações em 1929. Quem formulou o projecto foi o Eng. Paulo Benjamim Cabral, mas quem o concluiu foi o Eng. Maria de Melo e Mattos. Foi eletrificado em 1936 e ligado à rede de distribuição de energia, em 1950.
Portador do título de farol mais alto de Portugal, e 2º mais alto de Península Ibérica, ergue-se a 66 metros acima do nível do mar, com uma altura de 62 metros. A fundação da torre é constituída por um maciço de betão de 6 metros de espessura e foi assente sobre estacas, à altura das mais baixas águas. Nas alvenarias foram usados o grés vermelho de Eirol e alguns granitos.
O alcance luminoso actual, em condições normais de transparência atmosférica é de 23 milhas náuticas, cerca de 43 quilómetros.
A escadaria é composta por 271 degraus em pedra e em forma de caracol.
Este empreendimento custou ao Estado Português a quantia de 51 contos (€ 255,00).
A minha “relação de amizade” com o monumento, vem: dos tempos de menininha em que o meu pai me levava, de bicicleta, a visitá-lo; da juventude, em que me envolvia com o mar, ali, ao lado e o farol era a nossa referência; das visitas de estudo em que acompanhava os alunos e fazia sempre o teste ao meu coração, subindo a pé, os 271 degraus e chegava ao topo, viva e a respirar!
Passei um ano, com outra colega, a orientar os trabalhos de Área de Projeto sobre o Farol da Barra, fazendo, com os alunos, uma investigação aprofundada sobre a sua história. Culminou na construção de réplicas, em miniatura, do monumento! Tudo isto, antes de a troika ter metido o nariz onde não devia e ter convencido a tutela a fazer cortes na educação, com a abolição da disciplina.
Em 1968, “Farol” era o nome do jornal escolar, no Liceu Nacional de Aveiro, onde os alunos, com “dotes”, publicavam a sua produção literária. Apareceu, um dia, uma notícia de fundo, que referia a grande rivalidade entre Aveiro e Ílhavo, sobre a posse do monumento. Cada cidade disputava a supremacia sobre o farol! Então, dizia o articulista, tinha-se encontrado a solução para o problema; um aluno “iluminado”, havia sugerido que se acoplassem umas rodinhas ao referido farol e ele deslocar-se-ia, alternadamente, um mês para Ílhavo, outro para Aveiro!
Ninguém poderá dizer que os alunos de antigamente, no terceiro quartel do século XX, ainda longe dos finais de século, não eram criativos!
18.04.2012