PITADAS DE SAL – 12
AS PLANTAS DA MARINHA
Caríssima/o:
Isto de andar “perdido” pelas marinhas tem destas coisas: distraído a olhar para a flora que aí fui encontrando ao longo dos anos e não é que o Cardoso Ferreira se me adiantou? Talvez tenha passado despercebido o seu artigo publicado no Correio do Vouga de 15 de Fevereiro... Se assim foi, é pena, porque este nosso Amigo fala-nos da “salicórnia”. E muitos perguntarão: Mas que r... é isso da salicórnia? E ele responde:
«Sendo uma planta sazonal, a salicórnia desenvolve-se a partir da primavera (até ao outono), nas margens das marinhas de sal e também em alguns dos canais da ria. É nessa altura que apresenta maiores vantagens culinárias, podendo ser consumida crua em saladas.
Depois de muitos anos praticamente ignorada, tanto por agricultores e marnotos como por “chefes” de cozinha, a salicórnia está a entrar nas ementas “gourmet”, muito por influência da moderna cozinha francesa, que sempre soube valorizar este produto natural para confecionar saladas de sabor requintado.»
Diz ele que “era praticamente ignorada”... Pior do que isso: era pontapeada nas nossas diversões à procura de outras comedorias...
«A gastronomia regional aveirense está a começar a incorporar em alguns dos seus pratos, nomeadamente nas saladas, a salicórnia, uma erva comestível que cresce nas salinas aveirenses. Por ser altamente tolerante ao sal e, por isso mesmo, ser salgada, também é conhecida por sal verde ou espargos do mar.
A salicórnia tem valor comercial, pois, além de lhe assentar o carimbo de “produto gourmet”, pode ser transformada em farinha para animais, tendo ainda aplicações farmacêuticas e cosméticas.»
Muito mais nos diz, mas vou concluir a transcrição com algo que nos abre o apetite à espera de mais informações:
«Em Aveiro há já alguns produtores, sobretudo ligados a marinhas de sal, que comercializam salicórnia, havendo mesmo já marcas no mercado, numa clara aposta neste produto.
Nas Jornadas da Ria de Aveiro, realizadas na Universidade de Aveiro, investigadores do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro e do CESAM – Laboratório Associado, apresentaram o estudo “Cultura e exploração de salicórnia na Ria de Aveiro”, concluindo que “a salinicultura da erva-salada poderá ser mais um ponto de partida para a exploração sustentada dos recursos vegetais da Ria de Aveiro numa parceria com as indústrias alimentares e farmacêuticas”.»
Mas havia e há muitas outras plantas nas marinhas; talvez até os nossos marnotos nem soubessem o nome desta... mas não esquecerão o muito trabalho a retirar os abundantes moliços no início da safra, trabalho penoso. Não perdiam tempo a identificar os diferentes tipos de algas que se desenvolviam...
Também nos muros divisórios e nas partes secas das marinhas cresciam juncos, canízias,...
Já perto do palheiro, os mais previdentes e cautelosos, aprimoravam-se no cultivo da sua horta que bem jeito lhes daria na confecção do caldo: couves, salsa, ....
E, depois desta pequena amostra, rematemos com aquela figueira a refrescar o palheiro, convidando para uma sesta retemperadora na torreira ardente dum julho-agosto escaldante.
Manuel