TEXTO DE MARIA DONZÍLIA ALMEIDA
Penedo da Saudade
Esta vida de estudante
É uma vida atormentada!
Quem estuda, não pode amar,
Quem ama, não estuda nada!
Quem não se lembra
desta toada? Dos tempos gloriosos da sua vida de estudante, dos tempos em que
se vivia à custa dos pais, sem outras preocupações que não fosse estudar? Os
pais investiam e acreditavam no investimento que faziam, queriam apenas ver os
dividendos, periodicamente.
O tempo era de
mergulhar, no mundo do saber, mas essencialmente da vida!
Foi na velha Academia
de Coimbra que passei o melhor dos meus verdes anos. Saída do regaço materno,
diretamente para o turbilhão duma cidade fervilhante de vida, fiz o meu
mergulho, na mais genuína turbulência académica. Conheci os meandros da Lusa
Atenas e, esporadicamente, fazia uma incursão ao exuberante Jardim Botânico,
mesmo ali, ao descer da Faculdade de Letras. Vem daí, o meu gosto e admiração
pela arte da jardinagem e o culto por espécies botânicas exóticas e de variadas
proveniências. Circulava na voz do povo:
Eu fui
ao jardim Botânico
Passear debaixo da tília
E ao fim de nove meses
Dei um (des)gosto à família!
A partir de Abril/Maio, as temperaturas começam a subir e
a criar um ambiente convidativo aos passeios pelo jardim. Particularmente, à
noite, a atmosfera morna que se respira, rescendendo a rosmaninho, sem as
nortadas que caracterizam a nossa terra, envolve os estudantes em convívios e
passeios muito agradáveis.
É possível que a
demografia tenha sido influenciada por este clima ameno,
mas.............bem-aventurados os frutos do amor!
Coimbra é pródiga
em ambientes românticos, no seio da natureza:
Jardim da Sereia
E naquele Jardim
da Sereia,
Sob um denso arvoredo
Entretecia-se a teia
Dos sentimentos! Sem medo!
Havia muitos
jardins, muitas zonas verdes, a contrastar com a parte velha da urbe, nos seus
monumentos centenários, nas pedras carcomidas da calçada. E qual é o estudante
que não calcorreia de lés a lés a sua cidade universitária, para lhe sentir o
pulsar, para lhe penetrar os meandros.
Quebra-Costas
E o
Quebra-Costas subir?
Tinha que se escorregar
Para a tradição se cumprir
E no fim do ano passar!
Todo o estudante
que se prezasse, conhecia a tradição de se cair naquele declive enorme, para
passar o ano. Não custava nada! Difícil era mesmo não cair, mesmo sem os saltos
altos que as moças usam, hoje em dia. Com os seus altos e baixos, esta cidade é
rica em locais panorâmicos, donde se desfruta uma vista soberba cuja amplitude nos
faz perder de vista esta laboriosa cidade.
Do Penedo da Saudade
Lancei os olhos além!
Meu sonho de
eternidade
Com saudade rima
bem!
Aos vinte anos,
com a alma cheia de sonhos e projetos, tudo parece estar ao alcance. Há uma
energia incontida que quer mudar tudo, que quer reformar o mundo. Passadas umas
décadas, queremos reformar-nos a nós próprios! Evolução da idade! Quantas
recordações ficaram que servem de pasto às tertúlias de amigos, ex-colegas,
companheiros de jornada! Recordemos, pois recordar também é viver!
Serenatas romanescas
Trovas quase orações!
Destas coisas pitorescas
Restam só recordações!
Os estudantes,
independentemente dos seus credos religiosos, sejam praticantes ou não, estão
irmanados na mesma prece que elevam aos céus docentes!
Oração do Estudante
Professor nosso, que estais na sala
Aumentai as nossas férias,
Diminuí as nossas aulas,
Mantenha a sua paciência!
Perdoai nossas cábulas,
Assim como as nossas faltas,
Como nós perdoamos a existência de professores.
Não nos deixei cair em aulas de substituição
E livrai-nos da reprovação!
Ah, mãe!
Professor nosso, que estais na sala
Aumentai as nossas férias,
Diminuí as nossas aulas,
Mantenha a sua paciência!
Perdoai nossas cábulas,
Assim como as nossas faltas,
Como nós perdoamos a existência de professores.
Não nos deixei cair em aulas de substituição
E livrai-nos da reprovação!
Ah, mãe!
24.03.212