Um texto de Maria Donzília Almeida
Guarda-rios da Ria Formosa
Pato-real
Ria Formosa
Ria de Aveiro
As zonas húmidas são dos ecossistemas mais ricos e produtivos do mundo, em termos de diversidade biológica. Possuem grandes concentrações de aves aquáticas, mamíferos, répteis, anfíbios, peixes e invertebrados, sendo a água o seu elemento estruturante. Estes espaços têm, associados, muitos valores e funções: o controlo de inundações, retendo o excesso de água, a reposição de águas subterrâneas; a regulação do ciclo da água; a produção de biomassa; a retenção dos sedimentos e nutrientes; a mitigação das alterações climáticas através da retenção de dióxido de carbono da atmosfera e a libertação de oxigénio, com a fotossíntese. Daí, surgiu a necessidade de criar o Dia Mundial das Zonas Húmidas, sendo para isso designado o dia 2 de Fevereiro, pela Convenção de Ramsar, no Irão. a 2 de Fevereiro de 1971, entrando em vigor, em 1975. Este dia tem vindo a ser comemorado desde 1996, em diversos países inscritos na Convenção, e em Portugal, desde 1998.
O Dia Mundial das Zonas Húmidas é uma oportunidade dos governos, organizações e da população em geral, realizarem grandes ou pequenas, mas significativas, ações, no sentido da sensibilização das populações para as funções e valores das zonas húmidas, particularmente das Zonas Húmidas de Importância Internacional. Esta convenção conta com 130 países contratantes e constitui o único tratado sobre ambiente de carácter mundial e consagrado a um ecossistema particular.
A sua missão é favorecer a conservação e a utilização racional das zonas húmidas através de medidas implementadas ao nível nacional e resultantes da colaboração internacional, como meios de permitir um desenvolvimento sustentável no mundo inteiro.
Uma zona húmida é uma área de sapal, paul, turfeira ou água, natural ou artificial, permanente ou temporária, com água parada ou corrente, doce, salobra ou salgada, incluindo águas marinhas, até seis metros de profundidade na maré baixa e zonas costeiras e ribeirinhas.
As zonas húmidas recebem água da chuva, de reservatórios naturais subterrâneos, e de outras zonas húmidas como rios e ribeiras, mas também perdem água para estes. Ocupam apenas 3% do território europeu. Em Portugal foram identificadas 49 ZH, estando algumas classificadas como sítios Ramsar, totalizando uma área de 66 094 ha. O Estuário do Tejo, a mais importante zona húmida do país e uma das 10 mais importantes da Europa, bem como a Ria Formosa foram os primeiros sítios Ramsar designados em 1980.
É preciso proteger as Zonas Húmidas, pelo elevado contributo que dão para o equilíbrio climático do planeta. Controlam inundações e a erosão, porque retêm e absorvem a água de enxurradas. Alimentam reservatórios naturais subterrâneos de água doce, que o homem utiliza para diversos fins. Abrigam e alimentam aves migradoras e outras espécies, em particular durante a reprodução, sendo fundamentais para a sua conservação. Contrariam o efeito de estufa, uma vez que a vegetação retém o dióxido de carbono que, em excesso no ar, impede as radiações solares de se libertarem. Impõem-se, igualmente, pelos valores culturais, turísticos e recreativos, sendo, atualmente, muito procuradas para a prática de ecoturismo.
A Ria de Aveiro constitui um dos mais notáveis acidentes geográficos do nosso litoral, sendo uma das mais extensas zonas húmidas portuguesas Dela faz parte uma enorme extensão de águas de salinidade variável, em contacto permanente com o mar através de uma barra, estando sujeita ao regime cíclico de marés. A ligação, ao mar, é feita através da barra de pequenas dimensões, artificialmente aberta em 1808, no cordão litoral, por onde entram entre 25 e 90 milhões de metros cúbicos de água por cada ciclo de maré.
Para além de tudo o que foi referido atrás, a Ria de Aveiro constitui o ex-libris da nossa Veneza Portuguesa, pelo potencial turístico que representa para a região. A atração que exerce sobre os turistas, através dos seus pitorescos barcos moliceiros, é o convite explícito a um passeio pelas águas tranquilas desta ria. Na proa de um desses moliceiros, é exibida, de forma brejeira e colorida, sob a imagem de um fotógrafo a preparar-se para fotografar uma salineira, o seguinte texto:
Anda sempre numa fona,
Com os peitos a saltar.
A mulher que é “boazona”
“Descasca-se” para posar!
2 de fevereiro de 2012