Disse Jesus:“... mas se alguém te ferir na tua
face direita, oferece-lhe também a outra» S.Mateus, cap. 5: vv. 38 e 39.
Jesus
não nos proibiu a defesa, mas condenou a vingança. Ao dizer-nos para oferecermos
uma face em resposta à agressão na outra, defendia a ideia que não devemos
retribuir o mal com o mal; que é mais glorioso para Ele ser ferido que ferir,
suportar, pacientemente, uma injustiça que cometê-la; que mais vale ser
enganado que enganar, ser arruinado que arruinar os outros.
Mais que uma
simples efeméride, o dia 20 de Fevereiro deve relembrar, à nossa sociedade, que
a luta por aquilo em que acreditamos, por aquilo que consideramos correcto, não
deve ser feita, utilizando a violência. Com o recurso à força estamos
simplesmente a perder a razão que eventualmente possamos ter. A luta por todas
as causas deve basear-se no diálogo, em manifestações pacíficas, que demonstrem
a nossa posição.
Um dos exemplos
mais marcantes da História, sobre uma luta pacifica é sem dúvida Mahatma
Ghandi, uma das principais personalidades a nível mundial de defesa dos
Direitos Humanos, cuja vida foi dedicada à luta pela independência da Índia.
Criador do principio do Satyagraha, principio da não agressão, do protesto não
violento, Ghandi é uma enorme inspiração para todos aqueles que lutam por uma
sociedade mais justa e pacifica. Certa vez, o líder indiano
comentou: “Posso até estar
disposto a morrer por uma causa, mas nunca a matar por ela!”.
Quando, em certos momentos, a violência começou a manifestar-se, entre os Indianos,
Gandhi praticou o jejum, por duas vezes, colocando em risco a sua própria vida,
com o objetivo de sensibilizar os seus seguidores a não fazer uso da violência.
O termo “não-violência” em sânscrito – “ahimsa” – tem o significado profundo de
não dano, não prejuízo. Daí surge a ideia central desse conceito que nos
inspira a sermos pacíficos, o que é bastante diferente de ser passivo.
Trabalhar pela Cultura da Não-Violência, nas escolas, é
fundamental para que crianças e adolescentes possam aprender a valorizar
princípios como o respeito, a tolerância, o diálogo e a solidariedade. A
Cultura da Paz se faz nas pequenas ações do quotidiano: no nosso jeito de nos
comunicarmos com os outros, na nossa forma de lidar com conflitos e sentimentos
como frustração e raiva, na nossa capacidade de reconhecer e valorizar as diferenças
e de sermos tolerantes. Afinal, a escola não está isolada da sociedade e todas
as questões relacionadas com a violência valem para esse espaço também.
A escola é também ambiente onde inúmeras relações humanas
se constituem e, como em qualquer ambiente social, essas relações experienciam
os mais diversos sentidos. É um dos ambientes mais propícios para que se faça a
aprendizagem de valores que norteiam uma sociedade pacífica, como o respeito, a
ética e a justiça. Mas como se constrói essa sociedade pacífica? Como se faz a
aprendizagem desses valores? Buscando referências, exemplos, modelos. Essa é
uma das principais formas de aprendermos a conviver em sociedade. As crianças e
jovens são o espelho dos adultos, que as rodeiam. Estamos sendo referência de
exemplos éticos a esses jovens? Primamos pelo diálogo, buscamos a justiça e
trabalhamos em prol do bem comum ou valorizamos nossos próprios interesses, dando
prioridade ao prazer imediato e bem-estar individual? Estamos sendo pacíficos
em nosso quotidiano, com aqueles com quem nos relacionamos, ou muitas vezes
agimos de forma violenta por meio da omissão, humilhação, discriminação,
palavras duras ou até mesmo a rejeição?
Voltemos
a Gandhi: “Foi a minha mulher (Kasturbai Makanji Gandhi)
que me ensinou a não-violência, quando tentei dobrá-la à minha vontade. A sua
obstinada resistência, de um lado, e, do outro, a tranquila submissão no
sofrimento que padecia por causa da minha estupidez, agiu de tal modo em mim
que comecei a envergonhar-me e deixei de acreditar que tinha por natureza o
direito de dominá-la. Destarte, ela tornou-se o meu mestre da não-violência”.
A
verdadeira beleza, aquela que eu pretendo, está em fazer o bem em troca do mal.
Um
outro vulto do século XX que se destacou na luta pacífica pelos seus ideais,
foi o sul-africano, Nelson Mandela, que esteve preso 26 anos, tornando-se o
símbolo da luta anti-apartheid na África do Sul. Mesmo na prisão, conseguiu
enviar cartas para organizar e incentivar a luta pelo fim da segregação racial
no país. Neste período de prisão, recebeu apoio de vários segmentos sociais e
governos do mundo. Com
o aumento das pressões internacionais, o então presidente da África do Sul,
Frederik de Klerk solicitou, em 11 de fevereiro de 1990, a libertação de
Nelson Mandela e a retirada da ilegalidade do CNA Em 1993, Nelson Mandela é o
presidente Frederik de Klerk dividiram o Prêmio Nobel da Paz, pelos esforços em
acabar com a segregação racial na África do Sul.
Em 1994, Mandela tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul.
Governou o país até 1999, sendo responsável pelo fim do regime segregacionista
no país e também pela reconciliação de grupos internos.
Nelson
Mandela foi um combatente indomável pela liberdade, que, ao longo de décadas de
cativeiro, nunca perdeu a esperança de viver num país onde todos os seres
humanos fossem iguais, em dignidade e direitos.
Outro resistente pacifista que ficou para a história
americana, foi Martin Luther King. (1929/1968). Lutou pela abolição do racismo
na sociedade americana. “Temos de conduzir a nossa luta
sempre no nível elevado da dignidade e disciplina. Não devemos deixar que o
nosso protesto realizado de uma forma criativa degenere na violência física.
Teremos de nos erguer uma e outra vez às alturas majestosas para enfrentar a
força física com a força da consciência.
Esta
maravilhosa nova militância que galvanizou a comunidade negra não nos deve
levar a desconfiar de todas as pessoas brancas, pois muitos dos nossos irmãos
brancos, como é claro pela sua presença aqui, hoje, estão conscientes de que os
seus destinos estão ligados ao nosso destino, e que a sua liberdade está
intrinsecamente ligada à nossa liberdade.”
Em resumo, a
luta/resistência não violenta, está em múltiplas formas de ação, em que se
incluem aquelas em que também já participei, as marchas silenciosas. Os
professores têm sido protagonistas de muitas lutas, ao longo da nossa jovem vida
democrática e, contrariamente, ao que muita gente pensa, temos conseguido levar
a água ao nosso moinho. Uma guerra não se vence, com pequenos esforços mas com
vigorosas batalhas.
Somos detentores
duma grande arma: “A educação é a arma mais forte que se pode usar para
mudar o mundo."
20.02.2012