Uma reflexão de Georgino Rocha
É impressionante a prontidão dos convidados. A sua resposta fica como referência exemplar da atitude de quem é chamado. A sua disponibilidade indicia uma liberdade interior capaz das maiores ousadias. A sua confiança tem apenas como alicerce a força persuasora de quem lhes faz o convite. E deixando tudo, imediatamente O seguiram!
Jesus vive uma “hora” complexa. A prisão de João Baptista não augura nada de bom. Risco semelhante pode correr em qualquer momento. É tempo de pensar no futuro e começar a preparar as suas bases, desde já. Caminha à beira-mar e vai sonhando. Olha a grandeza e o encanto do ambiente que o rodeia: o azul sereno do céu espelhado nas águas, a brisa marítima suave que lhe afaga o rosto e faz agitar os cabelos, o ruído que vem da faina da pesca de uns homens que diligentemente lançam as redes. Vê nesta ocorrência a possível solução e a desejada oportunidade: Iniciar “a pesca de homens” a quem, mais tarde, entregaria a sua missão. Entretanto, andariam consigo, veriam o que fazia, estabeleceriam laços de comunhão fraterna, tentariam compreender os ensinamentos e, sobretudo, beneficiariam do seu estilo de vida itinerante, sóbrio e confiante em Deus-Pai. “Habilitavam-se”, tanto quanto pudessem, para o serviço a realizar.
Também ele lança a rede. E o resultado é imediato. Surge o primeiro núcleo apostólico que se alargaria progressivamente. Pedro, Tiago e João – pertencentes a duas famílias – vêm a ser testemunhas qualificadas de acontecimentos únicos na vida de Jesus. Ser pescador de homens constitui uma das imagens conhecidas em Israel pois era usada para expressar o papel universal e mediador que caberia ao povo amado por Deus nos tempos messiânicos (Ez 47, 9-11). O chamamento e a indispensável preparação têm um objectivo claro: servir o Reino de Deus que está em curso. Por isso, os vocacionados devem apreender em que consiste, viver e transmitir a sua mensagem, celebrar as suas maravilhas e anunciar o seu crescimento progressivo até à plenitude no futuro em que Deus e o homem selam a comunhão definitiva.
Este reino encontra-se já nas acções de Jesus, no perdão que oferece aos publicanos e prostitutas, na expulsão dos demónios e na cura dos enfermos, na libertação dos oprimidos e excluídos, na advertência aos ricos e poderosos, na exortação aos pobres e humildes. São acções que realizam em gérmen a sociedade nova respeitadora da vida, assente na verdade e no amor, na justiça e na paz, na liberdade e na igualdade; sociedade nova aberta a valores que a superam e lhe abrem horizontes novos como a graça, a santidade, a proximidade de Deus que se manifesta como Fonte da bondade e da beleza.
As sementes do Reino estão no coração de todos por decisão livre de Deus providente. Dar a conhecer esta realidade encorajante, criar condições para que desabrochem e embelezem o jardim de toda a humanidade, apresentar a sua realização plena e sedutora em Jesus de Nazaré, o Messias de Deus, servir de sinal e instrumento deste projecto de salvação que está em curso constitui a missão da Igreja, de todos os seus fieis, suas famílias e comunidades, seus grupos e movimentos. O convite está feito e é apelativo. A resposta terá de ser pronta e generosa.