"Uma indisciplina que foi ganhando requintes?
Estou a lembrar-me do governo a que eu pertenci, em que o doutor Medina Carreira já grunhia contra a despesa pública excessiva, contra a despesa desnecessária, contra a despesa inútil, e eu aprendi muitíssimo com ele. Ele dizia, dado que os políticos portugueses, de todos os partidos, são irresponsáveis e gastam por conta sem se importarem com nada, que parece que não têm filhos, que não vão ter netos. Gastam, gastam, gastam com tudo e mais alguma coisa, os políticos nacionais e os políticos autárquicos. E isto é uma infelicidade, parece que fomos pobres durante 40 anos e, de repente, passámos a ser ricos, novos-ricos, falsos ricos! E eu convenci-me da disciplina do euro, liderada pelo Banco Central Europeu, com um grande contributo dos alemães, que são absolutamente fanáticos pela estabilidade da moeda.
E o que descobriu?
Convenci-me de que os portugueses se iam portar bem e dei-me conta, para meu grande desgosto, que durante o período do euro os dirigentes portugueses continuaram tão irresponsáveis quanto eram, ou mais e, curiosamente, com a cumplicidade europeia. Os europeus queriam exportar para cá, queriam mandar dinheiro para depois receber, e são absolutamente co-responsáveis e cúmplices com a indisciplina portuguesa.
E desta vez aprendemos a lição?
O desespero europeu em que vivemos é tão fundo, tão grave, tão grave, a crise é tão absolutamente histórica, que isto talvez seja de molde a dar-nos uma lição. E tanto os portugueses como os europeus se virem menos para a indisciplina e para a demagogia financeira."
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