VIVEI NA ALEGRIA CONFIANTE
Georgino Rocha
Que exortação corajosa vinda de quem está em situações difíceis e sofridas! Que mudança de perspectivas comporta, relativizando o peso do presente face à esperança do futuro! Que suporte anímico e espiritual manifesta ao dar as razões em que se apoia e fundamenta! Aconselhar a viver na alegria os abatidos de coração, os esmorecidos de coragem, os desterrados de si mesmos, constitui uma verdadeira provocação e lança um forte desafio.
Assim era a situação no tempo do 3.º Isaías, profeta do exílio em Babilónia, quando Ciro, rei da Pérsia, conquista a cidade e dá liberdade aos cativos de regressarem às suas terras. Um grupo de judeus aproveita a oportunidade e vem instalar-se em Jerusalém. Mas depara-se com uma surpresa desagradável: é acolhido friamente e com alguma hostilidade pelos residentes. Apesar disso, ganha coragem e persiste, lançando as “bases” do culto habitual ao Senhor, seu Deus. Todavia, os agravos acentuam-se, sendo espoliados dos bens que conseguem obter, e ficam sem casa para habitar nem campos para trabalhar. Renasce intensa a desilusão frustrante, a tristeza de morte. E o profeta ergue a voz para proclamar: Exulto de alegria no Senhor. Ele há-de fazer brotar a justiça.
Pode parecer incrível, mas não. Trata-se de descobrir a novidade da alegria messiânica, de cultivar sentimentos de exultação festiva, de reconhecer os “rebentos” da justiça a emergir em todas as nações. Trata-se de saber ver com o coração purificado o que está a acontecer. Também, hoje, há sinais de uma sociedade nova, não os enxergais?!
Paulo recomenda aos cristãos de Tessalónica que vivam sempre alegres, que se conservem íntegros e dêem graças em todas as circunstâncias. E como que a justificar-se, acrescenta: Pois esta é a vontade de Deus a vosso respeito. O Apóstolo, vindo de Filipos, refugia-se naquela cidade comercial e de encontro de grandes pensadores e apregoadores das mais diversas doutrinas. Surge um grupo de discípulos, que acompanha por pouco tempo, pois forças persecutórias começam a movimentar-se. E tem de fugir para Atenas, donde envia os seus colaboradores Timóteo e Silas àquela comunidade para saber notícias. No regresso, estes seus colaboradores encontram-se com ele em Corinto e narram o que viram e ouviram: Os cristãos de Tessalónica continuavam fervorosos e activos. Escreve-lhes, então, dando conta da sua alegria e exortando-se a progredirem no amor mútuo e na fé confiante. Também no sofrimento é possível rejubilar, felizmente!
João Baptista alegra-se igualmente ao dar testemunho de Jesus: “Esta é a minha alegria e é muito grande. É preciso que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3, 29 e 30). Compara esta alegria à do amigo do noivo que recebe a noiva. Manifesta esta alegria em dar testemunho da luz da verdade, da presença de Alguém ainda não reconhecido, da voz que clama e desperta consciências, do regozijo exuberante que brota da sintonia com o projecto de Deus. Quantas testemunhas enfrentam as maiores adversidades, o próprio martírio da morte imposta por causa da fé em Jesus Cristo, com grande coragem e enorme serenidade. As notícias deste heroísmo são surpresas diárias.
João é a voz, Jesus é a Palavra. Um e outro “falam” mais pelo que fazem do que pelo que dizem. O seu estilo de vida, alegre e sóbrio, constitui a marca de qualidade da missão que vêm realizar. A voz passa. A Palavra fica e oferece-se a todos os que têm um coração disponível e atento.