O Natal é um acontecimento.
Sempre novo e único.
Sempre diferente e irrepetível.
O Natal é dom de Deus!
O Natal não precisa de acrescentos nem de adereços. Não carece de adjectivações nem de qualificativos. Porque só há um Natal: o Natal de Jesus, o Filho de Deus. O Natal será tanto mais autêntico quanto mais o centrarmos em Jesus Cristo e quanto melhor soubermos fazer deste tempo, ao jeito dos pastores de Belém e a exemplo dos magos, sábios vindos do Oriente, uma oportunidade de procura de Deus e uma experiência de encontro com a Humanidade. O mistério da encarnação do Filho de Deus é indissociável do mistério da redenção da Humanidade e do mistério da Igreja. O Natal reconduz-nos ao coração da Igreja viva, que o prolonga e actualiza, e ao berço de uma Humanidade nova, por todos nós sonhada e desejada.
Esta Humanidade nova, nascida do Natal de Jesus, tem uma matriz única, possui uma cultura própria e transporta em si os valores perenes da inviolabilidade da vida, da dignidade da pessoa humana, do respeito pela família e da construção do bem comum, entre tantos outros que faltam ao mundo de hoje e à cultura do nosso tempo e cuja falta é tantas vezes a raiz da crise que vivemos. No Natal, vivido na verdade da fé e celebrado em cada comunidade cristã, encontramos a família de Nazaré e reencontramo-nos com a nossa própria família e com todas as famílias.
Assim, a nossa missão consiste, muito particularmente nesta etapa pastoral da nossa Diocese, centrada na Família entendida como esperança e dom, em levar o Natal ao íntimo do coração humano, ao aconchego de cada lar e à vida e acção de cada paróquia. Guiados por este belo espírito de Natal, que brilha na magia do presépio acolhido no coração de cada um de nós, procuremos encontrar famílias para aqueles que as não têm: seja para os estudantes estrangeiros, que aqui permanecem neste tempo de Natal, e que vão ser acolhidos à mesa das famílias de Aveiro; seja para os sem-abrigo com quem partilhamos a refeição de Natal, prolongada em cada dia do ano; seja ainda para tantas famílias da nossa Diocese, repartindo com elas proximidade, alegria e bens, graças à generosidade de pessoas, instituições e comunidades cristãs.
Deste modo e de tantos outros que a ousadia da criatividade e da caridade inspirem, a luz do Natal vai brilhar no sorriso do rosto das crianças, no pão repartido em todas as mesas, no carinho junto dos doentes e idosos e na presença que nos faz próximos dos mais sós. Acredito que neste Natal mais solidário, ainda que vivido com menos, vamos todos reacender a luz da esperança em muitos lares, sobretudo naqueles que precisam de trabalho, que procuram a paz e que buscam a harmonia da felicidade. Neste tempo de crise prolongada e de austeridade implacável para tantas famílias, o Natal não pode ser apenas um oásis no deserto ou um momento de tréguas frente à inclemência injusta de tantas provações para os mais pobres.
O Natal deve ser caminho para quantos procuram Deus e luz para todos os que esperam dos cristãos respostas concretas e compromissos corajosos de comunhão solidária e de fraternidade efectiva com os que mais sofrem. O coração humano é o melhor presépio de Jesus, a família a necessária escola do Natal e a comunidade cristã o fermento novo do Evangelho que o Filho de Deus nos trouxe. Caros Diocesanos: que este Natal nos desperte com renovada alegria e crescente encanto para uma bela missão, vivida já na expectativa da próxima Missão Jubilar, conscientes de que no nascimento de Jesus se revela o amor de Deus pela Humanidade e que este amor aprendido com Jesus, o Filho de Deus, nos fará mais evangelizados e evangelizadores, mais generosos e solidários, mais atentos e felizes, mais próximos e irmãos, membros conscientes de uma Humanidade nova e construtores activos de uma Igreja viva.
Um abençoado e feliz Natal para todos.
Aveiro, 17 de Dezembro de 2011
António Francisco dos Santos
Bispo de Aveiro