E lá foi o Gonçalo com a sua felicidade na mão
Maria Donzília Almeida
Hoje, 1 de Dezembro, comemora-se o Dia Mundial da SIDA, que tem por finalidade sensibilizar e chamar a atenção das pessoas para esta calamidade. O VIH é o vírus da imunodeficiência humana, um vírus que ataca e destrói as células do sistema imunitário do nosso organismo. Quando se diz que alguém está infectado com VIH, isso significa que tem o vírus no seu organismo; quando essa pessoa passa a ter manifestações da SIDA, significa que as defesas do seu organismo estão demasiado enfraquecidas para “combater” as infeções que, normalmente, seriam debeladas sem dificuldade.
O dia 1 de dezembro foi internacionalmente instituído como o Dia Mundial de Combate à Aids. É neste dia que há uma consciencialização sobre essa doença. E o mundo une esforços para o seu combate. Desde o final dos anos 80, este dia vigora no calendário de milhares de pessoas por todo o mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde, no final de 2007, 33 milhões de pessoas conviviam com o vírus do HIV no planeta, e diariamente surgem 7 500 novos casos. Esta epidemia, embora tenha iniciado no final do século XX, pode afirmar-se, com razão, que foi o mal do século.
Numa breve análise, poderá considerar-se que a alteração de hábitos de vida, uma certa licenciosidade de costumes, aliada a uma filosofia hedonista, criaram as condições para a recetividade ao vírus. O homem, das sociedades modernas, tornou-se egoísta, centrado em si mesmo, materialista e alheio ao seu semelhante. O primeiro caso de contaminação surgiu em 1981, num jovem modelo homossexual, na Califórnia, que contraiu uma gravíssima infeção no pulmão e esófago. Desta enfermidade, padecem, os grupos de risco: homossexuais, os toxicodependentes, hemofílicos e os indivíduos sujeitos a transfusões de sangue.
Em qualquer um dos grupos de risco mencionados, há um fator que pesa muito, para que o vírus vá conquistando mais e mais terreno: a promiscuidade que impera tanto nos meios jovens, como noutros. Como expoente máximo da promiscuidade, existem as comunidades de gays, onde estes possuem, por ano, entre 35 e 50 pares. O Síndroma de Imunodeficiência Adquirida já fez 60 milhões de vítimas desde 1981, ano em que foi registado o primeiro caso.
Os números das estatísticas são elucidativos e alarmantes e o pior de tudo é que não param de crescer.
Impõe-se uma medida séria por parte das autoridades, tal como se faz noutros países e já se vislumbram sinais dessa intervenção do governo. Pelo que me toca, devo dizer que a tutela já implementou algumas medidas, nesse sentido, dando formação específica aos professores. É um assunto muito delicado, que tem a ver com diferentes sensibilidades e crenças religiosas diversas. Há cerca de onze, doze anos, frequentei uma ação de formação, cujo título era bem elucidativo: “Educação da Sexualidade e dos Afetos”. Além do nosso conhecimento empírico, no relacionamento com os alunos no dia-a-dia, colhemos, ali, alguma bagagem, que nos iria servir para lidarmos com o problema direto.
As nossas crianças chegam-nos com os seus dez aninhos, frescos, irrequietos, irreverentes e cheios de curiosidade. Dentro em pouco tempo, entram na fase da adolescência, tão controversa! Antigamente, no meu tempo, a infância/meninice, prolongavam-se... até mais tarde. A candura que caracterizava as criancinhas esbateu-se! Conheço uma Cândida lá na escola, mas é adulta! Hoje, há um desabrochar precoce da pequenada, que atinge grande expressão, com o eclodir da primavera. O tempo bom, as temperaturas amenas e o renascer na natureza, os perfumes das plantas, congregam-se para despoletar as hormonas. Não é raro descobrirmos, durante o funcionamento da aula, a troca de bilhetinhos amorosos, quando não, verdadeiras declarações de amor! Ralhar com eles, castigá-los, p’ra quê? Não foi Deus que disse: "Crescei e multiplicai-vos!"? Só terão de esperar pela hora certa! Aqui, entra a Educação Sexual! Lá vem o discurso pedagógico, que pretende levar os meninos a amadurecer, física e psicologicamente, até chegar a hora de entrarem na vida ativa, digo, da vida sexual. Devem privilegiar-se os afetos, nas relações rapaz/rapariga, que prepararão o início da vida sexual, com maturidade, responsabilidade e... amor! O amor será sempre o fundamento duma relação que se pretende gratificante e duradoura. O sexo virá por acréscimo e será, segundo as palavras duma pessoa amiga, o prémio do amor! Tenho lido grandes poetas, sou ouvinte assídua do Júlio Machado Vaz e nunca ouvi uma definição tão poética.
Há dias, um aluno esperou-me no final da aula, mas já me tinha avisado a meio, que queria perguntar-me uma coisa. Quis responder-lhe de imediato, pois as questões da aula resolvem-se ali, mas tive que esperar até ao fim. Era um pirralho de 10 anos que me perguntou, algo comprometido: Eu queria saber como se diz em inglês: queres namorar comigo? A minha reação passou por várias nuances, desde a perplexidade, à bonomia, ao ímpeto de abraçar o Gonçalo e dizer-lhe: o amor é muito bonito, não é? A minha investigação “pidesca” fez-me concluir que a felizarda era a Ana, uma bonita garota e a melhor aluna a inglês! Tem bom gosto o rapaz e... tem aspirações! E já conhecia as artes de sedução! Lá fiz o discurso pedagógico recomendado e, como sou um pouco egoísta, puxei a brasa à minha sardinha: - sabes, Gonçalo, as boas alunas, quando arranjam um namorado, querem ter pessoas à altura, também bons alunos e... homens de caráter! Portanto, vais estar muito atento nas aulas e vais ser tão bom a inglês quanto ela! Anuiu, satisfeito por ter conseguido a tradução para inglês da sua declaração de amor! De olhos muito vivos, com uma moldura de caracóis a avivar-lhe o rosto, lá foi o Gonçalo com a sua felicidade na mão.
Eu, para além de todas as funções cometidas a um professor, também tive a sorte de a vida me reservar o papel de Cupido! Que seja para boa sorte, rogo eu a Deus!
01.12.2011