A escravatura não é um problema do passado
Maria Donzília Almeida
“Sou uma moira de trabalho!” ou “Trabalho como uma galega!” eram expressões, até há bem pouco tempo, muito recorrentes na linguagem popular e denotavam, de alguma forma, uma espécie de servidão, que pouco se distanciava da escravatura
A captura de escravos em África era feita desde a Idade Média pelos Árabes, mas foram os europeus, desde o século XVI que se encarregaram do seu transporte para as plantações e minas do continente americano. As célebre roças das nossas ex-colónias, as que vi em S. Tomé, tiveram o seu período áureo, em plena escravatura.
Por iniciativa da ONU, comemora-se a 2 de Dezembro, o «Dia Internacional para a Abolição da Escravatura», na globalidade das múltiplas formas, que esta execrável prática abrange e, todas elas, atentatórias do respeito pelos Direitos Universais do Homem e da mais elementar vivência democrática. O ano de 2004 foi declarado Ano Internacional para a Abolição da Escravatura, a fim de lembrar a todos os Estados que é preciso acabar com esta forma repugnante de opressão
Portugal foi, no decurso do século XIX, dos países pioneiros a abolir a escravatura humana, atitude apontada como exemplar pelo célebre escritor francês Víctor Hugo.
Mas existem, ainda, em pleno século XXI, mesmo em países que se enfileiram dos mais avançados em economia, tecnologia, desenvolvimento e democracia, práticas da escravatura seja laboral, sexual, doméstica, infantil, etc., muitas vezes de forma encapotada. Surgem referências sobre casos descobertos e ou denunciados, nos meios de Comunicação Social.
A escravatura não é um problema do passado, pois, hoje, milhões de homens, mulheres e crianças são comprados e vendidos como bens móveis, forçados a trabalhos em regime de servidão, mantidos como escravos para fins rituais ou religiosos ou traficados de uns países para outros.
O respeito pelo outro, na abrangência de todos os outros seres humanos que connosco coabitam esta casa comum, que é a Terra, é um dever moral e cívico de primeira grandeza, pelo que neste «Dia Internacional para a Abolição da Escravatura» se apela para o desaparecimento de tão hedionda prática e que haja uma congregação de esforços, neste propósito comum
A ONU solicita que as pessoas que cometem, toleram ou facilitam a escravatura ou práticas aparentadas com esta devem ser responsabilizadas a nível nacional e, até, a nível internacional.
A comunidade internacional, deve fazer mais para combater a pobreza, a exclusão social, o analfabetismo, a ignorância e a discriminação que aumentam a vulnerabilidade das pessoas e figuram entre as causas profundas deste flagelo.
A organização internacional espera também que os Estados contribuam generosamente para o Fundo de Contribuições Voluntárias das Nações Unidas para a Luta Contra as Formas Contemporâneas de Escravatura, que presta assistência às vítimas.
Além das formas de escravatura, referenciadas, há ainda outras, mais silenciadas ou menos mediatizadas pelos mass media. Quando somos escravos dos nossos vícios, álcool, tabaco, droga, das nossas ideias rígidas que não mudamos a preço nenhum, dos nossos preconceitos, da nossa maledicência? Isso também não é escravatura? E muito mais difícil de erradicar, contra a qual não há movimento que possa sair-se vitorioso.
Hoje, em dia, ser-se absolutamente livre, sem dependências de nada... é difícil! Eu... dependo do ar puro que respiro, aquilo que o meu país ainda me concede!
02.12.2011