SER CRISTÃO NA VIDA PÚBLICA
Georgino Rocha
A afirmação parece redundante. Toda a pessoa é relação. A
sociedade nasce dos laços de relacionamento entre os cidadãos. Os cristãos são
cidadãos de “corpo inteiro”. Tudo o que é humano lhes diz respeito. Nada
acontece que esteja fora dos espaços de vida. Também públicos: na sociedade, na
política, na educação, na economia, na cultura, na religião.
Esta realidade interpela-nos fortemente: Como superar a
ética individualista e vencer a indiferença em que tantos humanos dão sinais
claros de viver? Como lançar pontes de contacto e fomentar laços de união,
reforçando a natural sociabilidade e criando a autêntica solidariedade no seu
sentido mais pleno? Como ajudar tantas pessoas a libertarem-se da indolência
face às mudanças em curso; ou com manifesta inércia e preguiça face ao bem de
todos, o bem comum? Como passar de ideias generosas e conselhos ponderados a
atitudes éticas coerentes?
A resposta é complexa, destacando-se a educação na e para a
liberdade e a ética solidária. A liberdade entende-se à luz da verdade que a
inteligência humana deve procurar e assumir como valor fundamental da sua
dignidade. Supõe, sempre, o domínio dos impulsos cegos e dos critérios
egoístas, o controle de vontades indolentes e adormecidas. Exige lucidez
prática, atenção solícita, memória fiel, perspectiva correcta. Assim, o rosto
social da pessoa deixa transparecer o que ela é verdadeiramente e a prudência
converte-se no seu modo normal de proceder.
A ética solidária decorre naturalmente deste modo de ser
humano e enriquece a nossa comum humanidade com novos valores, designadamente, o
valor do contributo de cada um e o apreço pelo bem comum.
O concílio Vaticano II reconhece estes valores e exorta a
que sejam tidos em conta para uma sã convivência social, alicerçada no amor, na
justiça e na paz. Simultaneamente, denuncia o erro daqueles que ignoram as
repercussões de comportamentos anti-sociais, lesivos do bem comum, o erro dos que
gostam de fazer caridade, aliviando necessidades individuais e esquecendo que
seria mais eficaz eliminar as injustiças que a originam.
O critério da colaboração na promoção do bem comum não é
simples nem fácil de determinar e aplicar, sobretudo quando tem como referência
«a própria capacidade e a necessidade alheia». Por isso este critério exige a
educação das consciências, em ordem a um maior amadurecimento e a uma coerente
autonomia dos cristãos com a sua cidadania robustecida pela fé.