ESPERA VIGILANTE E ACTIVA
Georgino Rocha
Era costume dos judeus abastados e ricos, quando tinham de se ausentar, confiar os seus bens aos cuidados dos servos, atribuindo-lhes responsabilidades concretas. Deviam desempenhá-las bem até que os patrões regressassem, não deixando ou enviando qualquer pré-aviso. O proceder dos servos manifestava a qualidade da relação com os seus senhores.
Jesus conhece bem os usos e costumes dos seus conterrâneos. Recorre frequentemente a eles, dando-lhes novas dimensões, enriquecendo-os com elementos que abrem horizontes mais vastos e interpelantes. Com estes recursos pedagógicos, os discípulos podem captar mais facilmente a mensagem que lhes quer transmitir. Hoje, lança mão da parábola do dono da casa que a confia aos seus empregados e parte de viagem. Deixa duas recomendações: cumprir responsavelmente a tarefa atribuída e estar vigilantes. E adianta uma breve explicação: O regresso pode acontecer a qualquer hora. O que vos digo a vós, digo-o a todos.
A vinda do senhor da casa polariza a atenção comum, dá sentido ao comportamento de cada um, desperta energias que tendem a adormecer, mantém em todos a espera vigilante e activa. É o futuro que introduz no presente dinamismos de intervenção, fruto da análise crítica das situações e das atitudes que condicionam a conservação da casa e a realização das tarefas.
O sentido da casa tem, entre os judeus, um grande alcance: da casa de habitação/lar aos bens familiares; da casa/local de reunião ao templo de Jerusalém, da casa/povo de Israel à humanidade inteira e ao próprio universo. Entre os cristãos, mantém alguns destes âmbitos e concretiza-se em outros: edifício/templo onde se reúnem os discípulos de Jesus, o santuário da consciência, a comunidade eclesial em todas as suas configurações, o cosmos onde Deus é tudo em todos.
O dono da casa, em qualquer destes âmbitos é sempre Deus que delega funções nos seus gestores escolhidos e mandatados que são todos os seres humanos, embora alguns desempenhem funções especiais. Jesus é o porta-voz desta feliz notícia que percorre os séculos e dá sentido à história; não apenas mais um porta-voz, mas o protagonista primeiro que nos associa a si por meio do seu Espírito. “O que nos digo a vós, digo-o a todos”.
Somos dignos da confiança, temos de lhe corresponder. Recebemos encargos específicos proporcionais às nossas capacidades, devemos realizá-los. Fomos exortados à vigilância activa, não nos deixemos adormecer e ser surpreendidos. Ouvimos o que nos foi dito, proclamemo-lo a todos: o Senhor vem à sua casa e encontra-se connosco para nos ajudar a realizar a tarefa que nos encomenda, para se alegrar com a fidelidade que cultivamos, para confirmar a responsabilidade que assumimos. Por isso, a sua vinda deve ser cuidadosamente esperada e activamente preparada.
De contrário, apanha-nos de surpresa, de “mãos vazias”, de coração sonolento, de vontade “desvitalizada”, completamente insensíveis ao que está a acontecer e nos diz respeito. Esta atitude contrasta radicalmente com a recomendação feita: Vigiai, ou seja, despertai para os tempos novos, estai preparados para as surpresas, acolhei confiantes a esperança que germina, trabalhai sem desfalecimento por um mundo humanizado, resisti aos cânticos sedutores da sirene publicitária, acompanhai os abatidos pelo peso da vida e construí, passo a passo, o vosso encontro definitivo com o Senhor que chega no seu advento definitivo.