VIGILANTES E ACTIVOS
Georgino Rocha
Insensatas, umas, e prudentes, outras. Assim se divide o grupo das jovens que aguardam a chegada do noivo da amiga. Néscias, umas e sábias, outras. Qual o critério para esta distinção, se o grupo todo se diverte durante o tempo da espera, se está apetrechado com as lanternas para iluminarem o cortejo nupcial, se escuta o mesmo anúncio, sente o correspondente apelo e entra num mesmo corrupio: “Eis que chega o noivo, ide ao seu encontro”?
Jesus, o autor das parábolas agrupadas numa só pela comunidade de Mateus por razões que têm a ver com a compreensão da última vinda do Senhor, quer dar uma resposta clara aos discípulos preocupados com a chegada do reino dos Céus e com os sinais que a manifestam. E a resposta começa assim: “Cuidado, para que ninguém vos engane” e prolonga-se por uma série de ensinamentos apresentados em parábolas, sentenças, recomendações. O cenário, onde esta “catequese” ocorre é o Monte das Oliveiras que, segundo a tradição, seria o espaço assinalado para esse derradeiro acontecimento. Aqui tem início, pouco tempo depois, o drama da paixão que leva Jesus à morte e à ressurreição.
O ensinamento da parábola das “virgens loucas e prudentes” desloca o centro de preocupações dos discípulos e, neles, o de todos os que se preocupam com o futuro. Mais do que saber quando e como acontece, importa estar preparado e vigilante, saber agir a tempo, tomar providências adequadas, alimentar a chama da esperança, aguentar os desafios da “noite” que parece interminável, manter-se activo e interveniente, ir ao encontro da “notícia” que pode surpreender-nos. Eis que chega Aquele por quem ansiamos. Está aí, não o vedes?
Os sinais de que se reveste são acessíveis… e surge o cortejo da bondade e paciência de tantos, a disponibilidade e beneficência de muitos, o despojamento voluntário de si e dos bens de alguns, a crescente sensibilidade social pelo que a todos diz respeito. Mas, os contra-sinais também são visíveis e interpelantes: a dormência e apatia, o frenesim de sorver o presente fugaz, o adiamento da resposta às questões existenciais que a consciência coloca, o ziguezague de quem faz opções “a la carte”, o culto da aparência de circunstância, a supremacia do económico sobre o social e consequente crise de valores que deixam perceber o desnorteio de quem devia ter um rumo certo e um ideal comum mobilizador.
Os sinais apontam e, por vezes, contêm a realidade. Como a semente em relação à árvore. A plenitude acontecerá no encontro do noivo que vem e da humanidade que vai, na comunhão da oferta divina com o desejo humano, na festa do amor, tão expressivamente simbolizada no cerimonial judaico das núpcias, no rito do casamento civil, no ritual do matrimónio cristão. De facto, o sinal por excelência do reino de Deus tem a ver com o amor conjugal heterossexual, com a sabedoria do coração, com a vigilância prudente, com a espera atenta e paciente, sobretudo nas noites de tempestade relacional, com o perdão reconciliador, com a aceitação inteligente do noivo – Jesus ressuscitado – que chega e quer abençoar todos os esforços generosos. A abundância do azeite e a intensidade da luz manifestam a exuberância da festa a que estamos chamados no futuro e se realiza, agora, de modo sacramental na eucaristia dominical.