Fernanda Reigota, à direita, com formandas
A revista EVOLUIR proporcionou
necessidade e libertação para
a escrita
No passado sábado, 19 de novembro, foi lançada uma nova revista, EVOLUIR, no salão da igreja paroquial da Gafanha da Nazaré e em Ílhavo, na pastelaria Mims, junto ao Centro Cultural. Trata-se de uma publicação nascida na aula de Escrita Criativa, da Universidade Sénior (US) da Fundação Prior Sardo, orientada pela professora Fernanda Reigota. Os textos são de Albertina Vaz, António Capote, Dores Topete, Fátima Martinho, Júlia Sardo, Maria Jorge, Maria Júlia Labrincha e Victor Cabrita. A coordenação esteve a cargo de Albertina Vaz, Dores Topete e Fernanda Reigota. A leitura de alguns trechos contou com fundo musical de acordes de guitarra clássica, com João Mónica a interpretar algumas melodias.
A ideia da publicação desta revista surge no âmbito da disciplina de Escrita Criativa, «nas aulas e fora delas», como nos informa a professora Fernanda Reigota, animadora deste projeto nascido na US. Outros textos destes alunos já haviam sido publicados no blogue da universidade, Convida Saberes, e a determinada altura «a publicação [em revista] foi assumida por todos, como uma necessidade», afirma a nossa entrevistada.
Num ápice, passou-se do projeto à sua concretização, depois da seleção, sempre com o objetivo de todos os alunos colaborarem, como veio a acontecer. «E agora vamos evoluir, porque a revista vai continuar; já estamos a escrever, com duas vertentes: a primeira, com a criação de uma narrativa coletiva, que seja testemunho da evolução da nossa sociedade, desde que nascemos, há mais de meio século; e a segunda, apoiando-nos em testemunhos, vivências, registos de figuras do concelho, mas também a partir de histórias contadas por pessoas, esperando delas licença para as recriarmos e publicarmos como testemunhos de vida», explica Fernanda Reigota.
Rita, Zita Leal e Jorge Neves
Sem se considerar a primeira responsável pela revista, a verdade é que os estímulos fundamentais vêm da professora de Escrita Criativa. E regista, como nota dominante, que os alunos sentem a EVOLUIR como «criação de todos», sendo garantido que a revista proporcionou «necessidade e libertação para a escrita».
A nossa entrevistada frisa que nesta disciplina e nos escritos dos alunos se evocam figuras de que ouviu falar, como foi o caso do «Ti Tarrinca», e afiança que de futuro «as memórias de todo o concelho de Ílhavo vão estar na secção dos testemunhos». E a concluir a curta conversa que manteve connosco, Fernanda Reigota aconselhou uma leitura atenta da revista EVOLUIR, «ao jeito de quem ouve um contador de histórias».
Na apresentação deste trabalho, foram lidos alguns textos por Jorge Neves, Zita Leal e sua neta Rita, de 12 anos. E dessas leituras, os menos jovens não puderam esconder alguma emoção pelas cenas retratadas de há meio século. Emoção que Zita Leal não conseguiu evitar também. Questionada sobre isso, diz que os textos mostram «uma sensibilidade muito grande das pessoas que os escreveram». «Quem lê muito, está sempre à espera de ler grandes autores e hoje deparei aqui com senhoras (e homens) como eu, umas mais velhas e outras mais novas, que não são os Lobos Antunes e os Saramagos, mas ofereceram-nos nesta revista textos tão lindos, tão humanos, que até dá vontade de acreditar na vida», diz Zita Leal.
João Mónica
Acrescenta depois que «há em cada um de nós, um escritor, especialmente um poeta, mas isto não se nota só no que escrevem, basta um olhar; quando estamos parados a olhar para o mar, sem mais nada fazer, estamos, no fundo, a criar poesia para dentro de nós» e que podemos transmitir aos outros. E do que leu, realçou a história do Natal, referindo que o Natal da sua infância «foi assim», como pode ser lido na revista EVOLUIR.
A revista EVOLUIR tem formato A4 e é ilustrada a preto e branco, com capa a cor. No Editorial, para além dos agradecimentos à professora Fernanda Reigota, salienta-se que escrever com ela foi, durante este ano, «uma experiência que todos pretendemos guardar para sempre». E sem se considerarem «escritores mas pessoas que gostam de escrever», no mesmo Editorial afirma-se: «também é verdade que nada disto teria sido possível sem o apoio, a orientação e o desafio que a nossa professora nos transmitiu de uma forma serena e silenciosa como é sua forma habitual de desenvolver projetos».
Por sua vez, Fernanda Reigota explica, no Manifesto dirigido aos seus formandos, que neste percurso lhe coube «o grato papel de propor uma paleta de cores e, em cada momento, cada um escolher as cores e as tonalidades que preferiu. Nesta tela tracei algumas linhas de demarcação para que o caminho fosse mais regular, não inibisse, mas conduzisse naturalmente à autoconfiança na escrita. E depois foi a revelação».
Fernando Martins
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