Evoquemos os nossos mortos
com toda a veneração e gratidão
Maria Donzília Almeida
Comemora-se, em Portugal, no primeiro dia de Novembro, o Dia de Todos os Santos. Tem a sua origem no termo anglo-saxónico que designa “All Hallows” – todos os santos. Há uma relação direta com o chamado Dia das Bruxas, que atualmente, se festeja no dia anterior. O Dia de Todos os Santos foi instituído pela igreja católica, para lembrar todos os santos, e mártires. Esta tradição está relacionada com a elaboração do calendário litúrgico, em que estavam inscritas as datas da morte dos cristãos martirizados em nome da fé. Realizavam-se missas e vigílias, no local onde se supunha eles terem morrido, como no Coliseu de Roma. Para que nenhum fosse esquecido, foi instituído o dia de S. Nunca à Tarde (!?)
Perdeu-se, na bruma dos tempos, a tradição de as crianças irem em bandos, pedir pelas portas, “o pão de Deus”, por alma dos que já haviam partido. Isto tinha a ver com a miséria do povo, acrescida da tragédia do terramoto de 1755, precisamente no 1º dia de Novembro. Chegavam, à noite, com os sacos de pano, cheios de romãs, nozes, chocolates, frutos secos, etc.
Logo a seguir ao Dia de Todos os Santos, celebra-se o dia de Finados, em que os Católicos evocam a memória dos seus entes queridos, já falecidos. Considerando que este dia não é feriado, acabam por fundir-se num só dia, as duas comemorações: Dia de Todos os Santos e Finados, uma vez que o primeiro é sempre um feriado.
É tradição, de longa data, os católicos enfeitarem as campas, com flores sumptuosas, em que deixaram de ter exclusividade, os tradicionais crisântemos. É costume, no âmbito do culto dos mortos, a colocação de flores nas campas dos defuntos, mas neste dia, as pessoas querem por algum motivo oculto, evidenciar estes sinais exteriores da veneração dos seus familiares que já partiram.
Durante o dia 1 de Novembro, acorrem ao cemitério da sua localidade, muitos visitantes que vão prestar veneração aos seus mortos. Há um encontro de amigos, que, quase exclusivamente, se vêem neste dia.
A atmosfera dos cemitérios, neste dia, fica impregnada de fumo e cheiro a cera e flores, criando um cenário tétrico, quase fantasmagórico.
Se neste dia vamos prestar a nossa homenagem aos nossos entes queridos, ocorre-me a ideia de que, apesar de ser importante lembrarmos os mortos, não é menos importante, cuidarmos dos vivos com todo o respeito e carinho, na sua peregrinação pela terra. Principalmente, na fase terminal das suas vidas! Todos nós temos conhecimento de velhinhos que estão por aí “arrumados” em casas de família ou outras, onde são tratados como empecilhos e descartáveis. Se calhar, quando morrerem, vão ser “abafados” em flores, das mais caras, para mostrar ao mundo que é muito sentida a sua falta. E.....foram muito bem tratados!
Deixemos a hipocrisia no pântano estagnado onde medra e evoquemos os nossos mortos com toda a veneração e gratidão, que nos merecem!
28.10.2011