NO POUPAR É QUE ESTÁ O GANHO...
Maria Donzília Almeida
“No poupar é que está o ganho, não é no casar cedo!”dita o aforismo popular, que ainda está na memória de muita gente. Já na altura, o povo dizia de forma premonitória, que o casamento não era uma boa forma de investimento, muito menos de poupança! Desde sempre, esta instituição foi um aforro de fracas garantias, podendo-se dizer que a decadência em que se encontra, hoje, mantém a tradição, cada vez mais renovada!
O ato de poupar é inerente ao homem e lembro-me de, em pequena, me ter sida incutida a ideia de possuir um mealheiro, que em linguagem popular, adquiria a corruptela de “migalheiro”! Este termo fazia jus ao sentido que se dava ao objeto, pois era o depósito das pequenas e grandes migalhas que se lhe iam ganhando na nossa meninice!
Com a evolução social que se verificou após a instauração da democracia, pareceu assistir-se a uma considerável melhoria do poder de compra da classe trabalhadora. As pessoas habituaram-se a comprar indiscriminadamente, o essencial e o supérfluo, numa submissão cega, aos ditames da sociedade de consumo. Para isso, muito contribui o efeito nefasto da publicidade, que chega a criar nas pessoas, necessidades que elas não têm. As instituições financeiras andam sempre de mão dada, pois estão sempre na mira de satisfazer as necessidades/sonhos de cada um. As facilidades de crédito são tão aliciantes quanto convincentes, chegando ao extremo de acenarem com a promessa de: “Viaje hoje, pague amanhã!” Desta forma, houve uma corrida desenfreada ao crédito e ao sobre-endividamento, colocando os agregados familiares em sérios apuros.
A evolução socioeconómica não foi acompanhada pela manutenção de valores que até, em certa medida foram relegados para o esquecimento. A conduta das pessoas passou a reger-se pelo parecer, em detrimento do ser. A conquista do desejado estatuto, passou a medir-se pela aquisição de bens materiais sendo que, o número de carros por agregado familiar, ou uma recheada carteira de investimentos, são a bitola do almejado prestígio pessoal.
No contexto político-económico, atual, falarem-nos em poupança, soa a algo como afronta, quando não mesmo provocação. Quando o poder de compra dos Portugueses se vê, cada vez mais reduzido e a austeridade é o estribilho da toada com que bombardeiam os nossos ouvidos, continuamente, poupar é uma miragem, neste deserto em que sobrevivemos.
A ideia de criar o Dia Mundial da Poupança surgiu em Outubro de 1924, durante o primeiro Congresso Internacional de Economia, em Milão. Tinha como objetivo, alertar os consumidores para a necessidade de disciplinar gastos e de amealhar alguma liquidez, de forma a evitar situações de sobre-endividamento. A taxa de poupança em Portugal ronda os 11%. Os planos poupança reforma são das aplicações mais procuradas em Portugal, havendo cerca de 15 mil milhões de euros aplicados em PPR. Mais de 80% das famílias portuguesas recorrem ao crédito para habitação, seguido do crédito para financiamento do automóvel e por fim o crédito pessoal.
É bom poupar, para precaver o futuro! Mas... para aprendermos como se faz, precisamos de modelos fortes e muitos, que venham de cima! “Não olhes para o que eu digo, mas sim para o que eu faço!