quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Padres passaram a ser viajantes apressados


Repensar para renovar as paróquias
António Marcelino

«Hoje há paróquias com uma população diminuta, sem padre residente, sem gente para assumir tarefas, com muitos idosos e poucas ou nenhumas crianças, mas guardando, ciosamente, os restos já mortos da cristandade. Porque são instituições canónicas, o povo reivindica direitos, quer tudo como nos tempos áureos do pároco residente e de gente para tudo. Deste modo, os padres que restam, no interior e nos meios rurais, muitos com várias paróquias, passaram a ser viajantes apressados para celebrar missas sem conta, sem disponibilidade interior para estudar e reflectir sobre o que andam a fazer e o que é preciso que se faça.» 

As atitudes perante a mudança tanto podem favorecer como impedir a renovação. Por isso, se torna urgente, quando está em causa uma renovação necessária, que haja tempo para repensar, o que não se poderá fazer sem escutar, confrontar, avaliar. 
Agora está em causa a paróquia, uma estrutura canónica secular, de origem rural, que acabou por entrar nos meios urbanos, com vantagens e dificuldades que perduram. Confinada a um território demarcado, a paróquia significa, ainda hoje e em muitos casos, a expressão normal da Igreja próxima das pessoas. Proporciona os meios necessários à vida cristã, fomenta e permite a relação mútua, compromete as pessoas em projectos comuns, serve-lhes de referência religiosa. Tempos idos, cada paróquia tinha o seu pároco; a mobilidade das pessoas era restrita; todos se conheciam e participavam; o próprio bairrismo, por vezes mais forte do que a fé, também gerava coesão. Mesmo os que emigravam sentiam que estavam na paróquia as suas raízes. 
Mas tudo foi mudando. Hoje há paróquias com uma população diminuta, sem padre residente, sem gente para assumir tarefas, com muitos idosos e poucas ou nenhumas crianças, mas guardando, ciosamente, os restos já mortos da cristandade. Porque são instituições canónicas, o povo reivindica direitos, quer tudo como nos tempos áureos do pároco residente e de gente para tudo. Deste modo, os padres que restam, no interior e nos meios rurais, muitos com várias paróquias, passaram a ser viajantes apressados para celebrar missas sem conta, sem disponibilidade interior para estudar e reflectir sobre o que andam a fazer e o que é preciso que se faça. 
A Igreja não pode abandonar os cristãos, muitos ou poucos, novos ou velhos que eles sejam. Mas não se pode dispensar de ver como os deve ajudar melhor e como garantir o acolhimento, a riqueza da Palavra, dos Sacramentos e do amor solidário, como responder, com realismo, às necessidades de cada um, para que possa viver e crescer na fé e no compromisso apostólico, segundo a sua idade e condição. Não pode deixar de ver como fazer comunidade e praticar uma pastoral missionária, como dar tempo e atenção às famílias, aos pobres, aos doentes e aos que, sem filhos próximos, vivem na solidão. E, ainda, como abrir o coração de cada um à comunhão universal, para ninguém se sinta isolado do mundo, como usar a rádio e a televisão para apoiar a sua vida religiosa e vencer o isolamento que deprime e empobrece. A situação requer, como se vê, criatividade e inovação. Campo aberto ao padre que permanece no seu posto, fiel à sua missão, dado a todos num mundo com características novas.
Não se faz acção pastoral com nostalgias, nem copiando o que se realiza em paróquias diferentes. Também não se faz, por certo, minimizando ou abandonando o campo onde permanecem pessoas, que aí vivem e lutam. A hora não é de afirmações teóricas, mas de procura de caminhos novos, experimentados aí onde se vive e trabalha.
De há muito se defende que é bom que os padres vivam e trabalhem em equipa. Assim poderão ser mais criativos e felizes, ter iniciativas válidas preparar leigos para novas tarefas e ministérios, dado que o padre não é dono, mas irmão com os irmãos. 
Às paróquias da cidade não lhes faltam problemas e exigências, e o trabalho em equipa não é aí menos urgente. Não há mais “a minha e a tua paróquia”, mas a Igreja na cidade. O individualismo é morte da acção pastoral e péssimo exemplo para os paroquianos que restam. Grande organização, como foi timbre das paróquias modelo da década de cinquenta, estagna, leva à rotina, ao anonimato de quem sai da órbita do padre, à acção delegada que esconde o rosto do pároco e dificulta o contacto com ele, porque está presidindo a tudo, muito ocupado no escritório e nada indisponível para acolher e escutar. Onde abunda organização de chefe centralizador, falta vida e Evangelho. 
A vida paroquial tem pecados de raiz, que agora vêm ao de cima e podem ultrapassar-se mais facilmente. Estou convicto de que sem uma atenção cuidada à realidade e às várias estruturas pastorais, pessoais e canónicas, no caso concreto, às dioceses e paróquias, da parte de quem as deve servir, não é possivel qualquer renovação. As estruturas não são um fim, mas meios necessários, que tanto podem ajudar a vida, como propiciar a morte e o afastamento das fontes da vida.

Etiquetas

A Alegria do Amor A. M. Pires Cabral Abbé Pierre Abel Resende Abraham Lincoln Abu Dhabi Acácio Catarino Adelino Aires Adérito Tomé Adília Lopes Adolfo Roque Adolfo Suárez Adriano Miranda Adriano Moreira Afonso Henrique Afonso Lopes Vieira Afonso Reis Cabral Afonso Rocha Agostinho da Silva Agustina Bessa-Luís Aida Martins Aida Viegas Aires do Nascimento Alan McFadyen Albert Camus Albert Einstein Albert Schweitzer Alberto Caeiro Alberto Martins Alberto Souto Albufeira Alçada Baptista Alcobaça Alda Casqueira Aldeia da Luz Aldeia Global Alentejo Alexander Bell Alexander Von Humboldt Alexandra Lucas Coelho Alexandre Cruz Alexandre Dumas Alexandre Herculano Alexandre Mello Alexandre Nascimento Alexandre O'Neill Alexandre O’Neill Alexandrina Cordeiro Alfred de Vigny Alfredo Ferreira da Silva Algarve Almada Negreiros Almeida Garrett Álvaro de Campos Álvaro Garrido Álvaro Guimarães Álvaro Teixeira Lopes Alves Barbosa Alves Redol Amadeu de Sousa Amadeu Souza Cardoso Amália Rodrigues Amarante Amaro Neves Amazónia Amélia Fernandes América Latina Amorosa Oliveira Ana Arneira Ana Dulce Ana Luísa Amaral Ana Maria Lopes Ana Paula Vitorino Ana Rita Ribau Ana Sullivan Ana Vicente Ana Vidovic Anabela Capucho André Vieira Andrea Riccardi Andrea Wulf Andreia Hall Andrés Torres Queiruga Ângelo Ribau Ângelo Valente Angola Angra de Heroísmo Angra do Heroísmo Aníbal Sarabando Bola Anselmo Borges Antero de Quental Anthony Bourdin Antoni Gaudí Antónia Rodrigues António Francisco António Marcelino António Moiteiro António Alçada Baptista António Aleixo António Amador António Araújo António Arnaut António Arroio António Augusto Afonso António Barreto António Campos Graça António Capão António Carneiro António Christo António Cirino António Colaço António Conceição António Correia d’Oliveira António Correia de Oliveira António Costa António Couto António Damásio António Feijó António Feio António Fernandes António Ferreira Gomes António Francisco António Francisco dos Santos António Franco Alexandre António Gandarinho António Gedeão António Guerreiro António Guterres António José Seguro António Lau António Lobo Antunes António Manuel Couto Viana António Marcelino António Marques da Silva António Marto António Marujo António Mega Ferreira António Moiteiro António Morais António Neves António Nobre António Pascoal António Pinho António Ramos Rosa António Rego António Rodrigues António Santos Antonio Tabucchi António Vieira António Vítor Carvalho António Vitorino Aquilino Ribeiro Arada Ares da Gafanha Ares da Primavera Ares de Festa Ares de Inverno Ares de Moçambique Ares de Outono Ares de Primavera Ares de verão ARES DO INVERNO ARES DO OUTONO Ares do Verão Arestal Arganil Argentina Argus Ariel Álvarez Aristides Sousa Mendes Aristóteles Armando Cravo Armando Ferraz Armando França Armando Grilo Armando Lourenço Martins Armando Regala Armando Tavares da Silva Arménio Pires Dias Arminda Ribau Arrais Ançã Artur Agostinho Artur Ferreira Sardo Artur Portela Ary dos Santos Ascêncio de Freitas Augusto Gil Augusto Lopes Augusto Santos Silva Augusto Semedo Austen Ivereigh Av. José Estêvão Avanca Aveiro B.B. King Babe Babel Baltasar Casqueira Bárbara Cartagena Bárbara Reis Barra Barra de Aveiro Barra de Mira Bartolomeu dos Mártires Basílio de Oliveira Beatriz Martins Beatriz R. Antunes Beijamim Mónica Beira-Mar Belinha Belmiro de Azevedo Belmiro Fernandes Pereira Belmonte Benjamin Franklin Bento Domingues Bento XVI Bernardo Domingues Bernardo Santareno Bertrand Bertrand Russell Bestida Betânia Betty Friedan Bin Laden Bismarck Boassas Boavista Boca da Barra Bocaccio Bocage Braga da Cruz Bragança-Miranda Bratislava Bruce Springsteen Bruto da Costa Bunheiro Bussaco Butão Cabral do Nascimento Camilo Castelo Branco Cândido Teles Cardeal Cardijn Cardoso Ferreira Carla Hilário de Almeida Quevedo Carlos Alberto Pereira Carlos Anastácio Carlos Azevedo Carlos Borrego Carlos Candal Carlos Coelho Carlos Daniel Carlos Drummond de Andrade Carlos Duarte Carlos Fiolhais Carlos Isabel Carlos João Correia Carlos Matos Carlos Mester Carlos Nascimento Carlos Nunes Carlos Paião Carlos Pinto Coelho Carlos Rocha Carlos Roeder Carlos Sarabando Bola Carlos Teixeira Carmelitas Carmelo de Aveiro Carreira da Neves Casimiro Madaíl Castelo da Gafanha Castelo de Pombal Castro de Carvalhelhos Catalunha Catitinha Cavaco Silva Caves Aliança Cecília Sacramento Celso Santos César Fernandes Cesário Verde Chaimite Charles de Gaulle Charles Dickens Charlie Hebdo Charlot Chave Chaves Claudete Albino Cláudia Ribau Conceição Serrão Confraria do Bacalhau Confraria dos Ovos Moles Confraria Gastronómica do Bacalhau Confúcio Congar Conímbriga Coreia do Norte Coreia do Sul Corvo Costa Nova Couto Esteves Cristianísmo Cristiano Ronaldo Cristina Lopes Cristo Cristo Negro Cristo Rei Cristo Ressuscitado D. Afonso Henriques D. António Couto D. António Francisco D. António Francisco dos Santos D. António Marcelino D. António Moiteiro D. Carlos Azevedo D. Carlos I D. Dinis D. Duarte D. Eurico Dias Nogueira D. Hélder Câmara D. João Evangelista D. José Policarpo D. Júlio Tavares Rebimbas D. Manuel Clemente D. Manuel de Almeida Trindade D. Manuel II D. Nuno D. Trump D.Nuno Álvares Pereira Dalai Lama Dalila Balekjian Daniel Faria Daniel Gonçalves Daniel Jonas Daniel Ortega Daniel Rodrigues Daniel Ruivo Daniel Serrão Daniela Leitão Darwin David Lopes Ramos David Marçal David Mourão-Ferreira David Quammen Del Bosque Delacroix Delmar Conde Demóstenes

Arquivo do blogue

Arquivo do blogue