Fados no Santuário
A viagem com boa disposição
Ontem, 5 de outubro, a ADIG (Associação para a Defesa dos Interesses da Gafanha da Nazaré) foi em romagem ciclista ao Santuário de Santa Maria de Vagos, numa visita simbólica às origens da nossa gente. Participaram 40 ciclistas, a que se juntaram mais 20 pessoas que se deslocaram de carro.
O presidente da associação, Júlio Cirino, sublinhou no santuário que ali foram «ao encontro da fonte das nossas raízes, por daqui terem saído, há mais de dois séculos, muitos dos nossos antepassados». Referiu que «é a primeira vez que a ADIG, ou qualquer outra instituição da Gafanha, o faz de modo tão expressivo».
Na mesma altura, recordou que os gafanhões com origem na região de Vagos eram «gente de rija têmpera», gente que, «em momentos de maior aflição, unia-se, em preces fervorosas, à Nossa Senhora de Vagos, e assim encontrava alguma razão de ser para as suas vidas, ainda muito primárias».
Frisou que, «um dia, lá chegaram à Gafanha, em busca de melhor vida, os Sarabandos, os Caçoilos, os Patas, os Vechinas, os Rochas, os Ritos, os Covas, os Marendeiros, os Estanqueiros, os Frescos, os Esgueirões e os Carapelhos». E acrescentou: «apesar disso, até certa altura aqui (em Vagos) se casavam, aqui batizavam os seus filhos, e aqui eram enterrados, vindo a “pau e corda” pelas dunas palustres da mata, ou em barcos pelo rio Boco acima, até à sua última morada. Assim foi até 31 de dezembro de 1853.» E adiantou: «Toda esta gente destemida, sempre com muita canseira, soube transformar dunas estéreis numa “mancha viçosa de verdura”, o que na altura ficou conhecido por “Milagre da Gafanha”.»
Foi lido, entretanto, um texto que resumiu lendas, realidades históricas e notas sobre peregrinações a Santa Maria de Vagos, numa perspetiva cultural, fundamental nas mais diversas iniciativas levadas a cabo ou a programar pela ADIG.
Pausa para descanso?
A alegria sempre presente
Os romeiros foram simpaticamente acolhidos pelo Padre Manuel António Carvalhais, pároco de Vagos, numa demonstração clara de que está atento ao que acontece em torno do Santuário, após o que atuou um grupo de gafanhões (José e Manuel Serafim, e Rogério Fernandes), que apresentou uma guitarrada, “Lá Menor das Feiras”, e dois fados de Coimbra, um dos quais dedicado a “Nossa Senhora de Vagos”. Seguiu-se Grupo Coral da Escola Secundária da Gafanha da Nazaré, que interpretou três canções: “Saudade”, dos tempos em que, dali partindo, chegaram primeiro à Chave e, posteriormente, aos outros lugares da Gafanha; “Milhões de Barcos”, outro título dedicado aos que escolheram o mar por ganha-pão; e, ainda, o “Canto da primavera”, que foi mais um hino de alegria que se juntou à alegria dos presentes.
Seguiu-se o almoço farto e partilhado, como noutros tempos, após o que marcou presença a música tradicional portuguesa, que contou com a arte do Conjunto de Cavaquinhos da Tuna da Universidade Sénior da Fundação Prior Sardo.
Depois do café, os presentes cantaram durante cerca de duas horas música tradicional portuguesa, que contou com a participação do Conjunto de Cavaquinhos da Tuna da Universidade Sénior da Gafanha da Nazaré.
No regresso, foi lido, em cada limite da nossa freguesia, um texto referente ao que aconteceu, no respeitante ao assunto, em 1911, 1969 e 2001.
Fernando Martins