Os animais têm sentimentos?
M.ª Donzília Almeida
Dirigida esta pergunta a qualquer cidadão comum, podem surgir respostas tão díspares, quanto estas: Sentimentos? Claro que não! Os animais são seres irracionais! Outra resposta muito recorrente é esta: Ao meu cão só lhe falta falar! Desta resposta, comungo e corroboro! Então, em que ficamos?
Quem convive de perto com animais de estimação, já deve ter presenciado gestos e atitudes que os assemelham muito aos seres humanos. Possuidora de dois animais de estimação, um cão e uma cabrinha anã, tenho já algum conhecimento do modo como ambos se movimentam e interagem com os humanos, no seu habitat natural. Ambos são tratados com todos os mimos requeridos por um ser humano. Como é para mim, um tema aliciante, dediquei algum tempo à investigação do assunto.
Estudos feitos, com elefantes, demonstram que são modelos de estudo das emoções e sentimentos. Quando algum animal morre, os outros elefantes do bando, organizam-se em verdadeiros rituais fúnebres. Juntam-se à volta do cadáver, sobre o qual colocam folhas e galhos e choram como os humanos. As crias andam, sempre, sob vigilância dos pais, que as defendem de qualquer ataque dos predadores.
Quando os animais andam em grupo, a forma comum de demonstrarem afeto é tocarem-se no e com o corpo. É frequente ver girafas cruzando carinhosamente o pescoço Quer sejam um casal ou apenas bons amigos, o abraço é uma prova de afeição. Pode, também, ver-se leões-marinhos, a dormir, agarrados, mantendo assim a temperatura do corpo. Os mamíferos como o urso, baloiçam o corpo, enquanto seguram a ponta dos pés, exibindo a sua alegria. É uma característica semelhante ao ser humano que gosta de brincar quando está, feliz, a tocar os membros, como os bebés. Os mamíferos mantêm o hábito, mesmo no estado adulto. O carinho, o amor a proteção, estão bem patentes na imagem da galinha, com os pintainhos debaixo dela e as asas a envolvê-los. É o símbolo da imagem protetora, que também se manifesta noutras fêmeas, como as macacas. Se algum perigo iminente surge, a mãe fêmea torna-se agressiva e prepara-se para defender os seus rebentos, com unhas e dentes.
Uma máxima da natureza é cada espécie defender a sua raça e fazer a propagação dos seus genes. Contudo, os zoólogos retratam o caso de uma zebra que resolveu adotar os filhotes de cervos, que haviam sido abandonados. Um caso extremo de amor maternal.
Deixei para o fim, o maior amigo do homem e como ele transmite os seus afetos e emoções. Desde abanar a cauda, a encostar-se ao corpo dos donos, a mostrar uma agitação frenética, quando recebe visitas, isto não é alegria? Esfusiante! A ladrar, inquieto, quase zangado, quando os amigos da casa se vão embora! A este, verdadeiramente, eu digo: só lhe falta falar!
Não é por acaso que existem na Língua Portuguesa, cinco verbos para exprimirem o estado de alma do cão: ladrar, ganir, uivar, latir, rosnar. Cada palavra tem uma conotação própria, diferente, que traduz as nuances das emoções do animal. Esta abundância de palavras para traduzir a “voz” dos caninos, tem a ver com a grande proximidade que temos destes animais. A língua adapta-se a estas circunstâncias, introduzindo novos vocábulos, no seu léxico. Os Esquimós, vivendo rodeados de gelo, para além dos seus igloos, possuem “n” vocábulos para traduzirem as várias fases de fusão do gelo. Chama-se a isto, a dinâmica da língua.
Havia um poema, num livro da instrução primária, intitulado: Vozes dos animais. “Palram pega e papagaio...........”. Os animais falam? Ninguém poderá negar que têm sentimentos e emoções!
04.10.2011