BALADA DAS MENINAS DE BICICLETA
Caríssima/o:
Há
coisas que só um poeta pode fazer...
Vem
daí comigo e segue o conselho de Vinicius de Moraes: ... leva “a tristeza no
quadro da bicicleta”!
Meninas
de bicicleta
Que
fagueiras pedalais
Quero
ser vosso poeta!
Ó
transitórias estátuas
Esfuziantes
de azul
Louras
com peles mulatas
Princesas
da zona sul:
As
vossas jovens figuras
Retesadas
nos selins
Me
prendem, com serem puras
Em
redondilhas afins.
Que
lindas são vossas quilhas
Quando
as praias abordais!
E as
nervosas panturrilhas
Na
rotação dos pedais:
Que
douradas maravilhas!
Bicicletai,
meninada
Aos
ventos do Arpoador
Solta
a flâmula agitada
Das
cabeleiras em flor
Uma
correndo à gandaia
Outra
com jeito de séria
Mostrando
as pernas sem saia
Feitas
da mesma matéria.
Permanecei!
vós que sois
O que
o mundo não tem mais
Juventude
de maiôs
Sobre
máquinas da paz
Enxames
de namoradas
Ao sol
de Copacabana
Centauresas
transpiradas
Que o
leque do mar abana!
A vós
o canto que inflama
Os
meus trint'anos, meninas
Velozes
massas em chama
Explodindo
em vitaminas.
Bem
haja a vossa saúde
À
humanidade inquieta
Vós
cuja ardente virtude
Preservais
muito amiúde
Com um
selim de bicicleta
Vós
que levais tantas raças
Nos
corpos firmes e crus:
Meninas,
soltai as alças
Bicicletai
seios nus!
No
vosso rastro persiste
O
mesmo eterno poeta
Um
poeta – essa coisa triste
Escravizada
à beleza
Que em
vosso rastro persiste,
Levando
a sua tristeza
No
quadro da bicicleta.