GRATIDÃO
Maria Donzília Almeida
“A gratidão desbloqueia a abundância da vida. Ela torna o que temos em suficiente, e mais. Ela torna a negação em aceitação, caos em ordem, confusão em claridade. Ela pode transformar uma refeição em um banquete, uma casa em um lar, um estranho em um amigo. A gratidão dá sentido ao nosso passado, traz paz para o hoje, e cria uma visão para o amanhã."
Melody Beattie
No seu tratado sobre Relações Humanas, o americano Dale Carnegie teceu algumas considerações, muito importantes, sobre o assunto em epígrafe. Diz ele que duma forma geral, as pessoas não têm esse hábito enraizado, no quotidiano do seu relacionamento com o próximo. Nós não devemos esperar gratidão dos outros, já que não ser grato é comum no ser humano. Mas, quando alguém tem o dom de agradecer, seja a quem for, essa pessoa é possuidora duma sensibilidade e uma educação especiais, segundo o patrono das Human Relations.
Quantos de nós, agradecem a Deus, por “todas as maravilhas que ele operou”? Há muita gente, a quem, não passa pela cabeça, agradecer as maravilhas arquitetónicas, as maravilhas artísticas, as sete maravilhas do mundo, tantas coisas que o homem tem criado ao longo dos tempos, usando a sua inteligência, sabedoria e arte. Mas sabemos quem criou o universo, pois, quanto mais os cientistas avançam no conhecimento, mais provas recolhem da existência desse Criador.
Há muito tempo atrás, quando as Gafanhas eram um meio rural, havia o hábito salutar, de fazer uma pequena oração no fim das refeições; rezar as graças, que consistia em agradecer a Deus, pela bênção das sementeiras, pelo pão nosso de cada dia que se ia colhendo das terras. Quanto mais agradecermos o que temos, mais nos predispomos para a felicidade. O nosso pensamento concentra-se no que é positivo e nós atraímos aquilo em que pensamos.
Vem isto a propósito duma cena ocorrida algum tempo atrás e que demonstra claramente como ainda há pessoas dessa estirpe.
Em passeio por esta terra, uma jovem senhora, residente nos Estados Unidos e a passar umas férias na terra dos pais, reparou e ficou logo encantada, com umas cortininhas de renda que viu numa janela da minha casa. O enamoramento foi tal, que pensou, lá no seu íntimo, pedir à dona se lhe deixava tirar uma amostra. Sabem as senhoras que se dedicam a esta arte, que não é só olhando para a peça, de longe, que se obtém a adita amostra. Foi por interposta pessoa, um ex-aluno, que me fez o pedido. De imediato, tirei a cortina da janela e mandei-lha para que se realizasse o seu desejo. Se a senhora gostou do objeto, só prova que apreciou o meu gosto e nada me importa partilhá-lo com outros. Acabado o trabalho, a senhora veio a minha casa e agradeceu-me efusivamente o meu gesto a que atribuiu uma importância enorme, excessiva, a meu ver! _Fiz o mesmo pedido a uma vizinha minha, nos EUA, que me mandou olhar para a janela e que tirasse a amostra! Justificou, pondo-me num pedestal!
Assegurei-lhe que não me custara nada partilhar com ela a posse do modelo e mesmo que ela vivesse, na mesma rua, era-me indiferente, permitir-lhe a cópia.
Ali estava uma verdadeira Lady, em toda a aceção da palavra, possuidora duma sensibilidade especial e dum raro sentido de gratidão
Por fim, para materializar o seu reconhecimento, quis oferecer-me uma lembrança. Toda a minha argumentação para rejeitar, provou-se infrutífera, pois ela insistia na vontade de compensar-me. Como não conseguisse desembaraçar-me daquela determinação, acedi, sugerindo-lhe que me desse uma coisa de que gosto muito – uma concha para a minha coleção! Pouco tempo volvido, apareceu-me em casa, com uma flor, feita dum búzio. Nos anos seguintes, sempre que vem de férias traz-me uma lembrança que, invariavelmente, envolve as conchinhas.
Ainda há gente desta estirpe, que tem as suas raízes, nas Gafanhas.
Deus deu-lhe de presente, hoje, 86 400 segundos. Já usou um deles para dizer 'obrigado'?
29.07.2011