Vasco Lagarto, a alma da Terra Nova
Tozé Bartolomeu, uma saudade
A Rádio Terra Nova (RTN) celebra hoje as suas Bodas de
Prata. São 25 anos ao serviço dos sem vez nem voz, os que nunca aparecem
nos órgãos de comunicação social de amplitude nacional. Quem está atento
minimamente à ação diária desta rádio com sede na Gafanha da Nazaré, sabe
perfeitamente que é assim. E por força das novas tecnologias da informação, a
Terra Nova pode ser ouvida e lida em todo o mundo, por emigrantes e não só.
Nessa linha, torna próximos quantos têm raízes nestas terras beijadas pela Ria
de Aveiro.
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Recordo hoje, com alguma emoção, o dia 12 de julho de 1986.
Havia no ar, há uns tempos, a febre das chamadas Rádios Piratas, e a
Cooperativa Cultural da Gafanha da Nazaré até se tornara associada da Rádio
Oceano, nascida em Aveiro. Numa assembleia-geral, quando o Vasco Lagarto anunciou essa posição da
nossa cooperativa, eu próprio lancei o repto: E por que razão não avançamos nós
para uma rádio na Gafanha da Nazaré? O Vasco sorriu e não adiantou grande
conversa. Tempos depois, conhecedor profundo dessa área tecnológica, a rádio,
sem nome, foi para o ar.
No dia 12 de Julho, fui alertado por um filho (estavam lá o
Fernando e o Pedro, tendo sido a voz deste último a primeira a ouvir-se nas
ondas hertzianas, com fonte na sede da Cooperativa Cultural) e corri para lá.
Assisti a toda a azáfama, enquanto se diziam umas coisas e se punham no prato
os LP, porque era preciso estar no ar.
Recordo que choveram alguns telefonemas. E no final da
tarde, numa espécie de mesa-redonda, no improvisado estúdio, foi possível
conversar, com algumas pessoas que entretanto chegaram, sobre a importância de
uma rádio, ensaiando eu o lugar de entrevistador.
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Sei que a caminhada tem sido dura. Primeiro, para manter a
rádio no ar, com qualidade e sentido das responsabilidades. Segundo, para a
legalizar e organizar, com o nome de batismo de Terra Nova, em recordação dos
bancos de pesca do mesmo nome e para encarnar o sonho de uma nova terra para
usufruirmos. Em simultâneo, pretendeu-se fazê-la chegar, com interesse, aos
seus inúmeros ouvintes. Terceiro, levando-a a acompanhar o progresso
tecnológico e a alargar o seu âmbito de audiência.
Paralelamente, sucessivas intervenções reorganizativas
contribuíram para a sua credibilidade, enquanto a capacidade de intervenção
social e cultural foi crescendo, sendo hoje reconhecidamente um pólo
informativo e formativo a ter em conta.
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A primeira palavra vai para o mentor de tudo o que se passa,
desde a sua origem, na RTN: Vasco Lagarto. Ele é a alma e a dinâmica deste
projeto. Sem ele, esta rádio não teria sobrevivido às mudanças e avanços
galopantes da comunicação social deste último quarto de século. Tantos jornais
e rádios que não tiveram pés para aguentar a dureza do chão que tinham de
calcorrear! Tanta rádio que fora absorvida, sem dó nem piedade, por gente que
nada tinha nem tem a ver com o espírito das Rádios Locais! Pois à coragem e à
teimosia do Vasco e ao seu amor à nossa região, com suas gentes, instituições,
tradições e sonhos de progresso sustentado, se devem a fundação, a manutenção e o
crescimento da Terra Nova, que continua a emitir em 105 FM.
A segunda palavra vai para quantos a fazem no dia a dia.
Profissionais que dão o seu melhor, mantendo vivo e atuante o setor
informativo, sendo o rosto de muitas vitórias e escudo de algumas incompreensões
e de críticas desajustadas de quem nada faz; e amadores e colaboradores que,
com a sua capacidade criativa, partilham saberes, emoções, gostos, alegrias e
vivências com os ouvintes, sem nada esperarem em troca.
A terceira palavra vai, com o meu estímulo e com votos de
que continuem com a nossa rádio, para os ouvintes e leitores da RTN (nos quais
me incluo, várias vezes ao dia), espalhados pelo globo que habitamos, qual
aldeia onde todos nos tornamos vizinhos e corresponsáveis por uma sociedade mais
justa e mais fraterna.
Fernando Martins