Adelino Pina com filho de campeão
O pombo-correio dá-nos lições espantosas
de resistência e do
sentido de orientação
O Grupo Columbófilo da Gafanha (GCG) foi fundado em 1952. É,
provavelmente, a mais antiga instituição criada na nossa terra. Tem uma longa
história gerada à volta da paixão pelos pombos-correios, porém, pouco conhecida
de muitos gafanhões. Imerecidamente, diga-se de passagem.
Adelino Pina, atual presidente da direção, defende como
objetivos fundamentais para o desenvolvimento da columbofilia entre nós, mas
não só, a obtenção de uma nova sede que garanta mais visibilidade e
funcionalidade, mas ainda deseja a construção de um columbódromo, com
finalidades pedagógicas. O GCG também deseja instalar um pombal numa
Instituição particular de solidariedade social, preferencialmente com crianças
portadoras de alguma deficiência, pois é conhecida a importância educativa no
contato com animais. Para a concretização destes sonhos, que são pertinentes
para o GCG, a associação regista o apoio da Câmara Municipal de Ílhavo, cujo
presidente, Ribau Esteves, tem mantido um diálogo muito frutuoso com os
dirigentes.
João Bola, o sócio n.º 1, contou os primórdios do seu
interesse pelos pombos-correios. Na sua juventude, com 16 anos, teve um mestre
na oficina onde aprendeu a arte da serralharia, em Aveiro, que muito o
influenciou. Era um columbófilo, que falava de pombos a toda a hora. «Os
columbófilos estão sempre a falar de pombos-correios, como os adeptos de
futebol falam dos seus clubes e dos seus ídolos», afiançou-nos.
João Bola, sócio n.º 1 do GCG
João Bola só conhecia «os pombos galegos» que havia em casa
dos seus pais. Mas o mestre soube encaminhá-lo para uma experiência desafiante,
no sentido de convencer seu pai a trocar os pombos galegos pelos
pombos-correios. O pai do João, encarregado na JAPA (Junta Autónoma do Porto de
Aveiro), dirigia trabalhos na Murtosa, na altura, e foi convidado a levar, num
cesto, pombos galegos e dois borrachos, já com capacidade para voar, que lhe
foram oferecidos por aquele amigo. Largados na Murtosa, como lhe havia sido
recomendado, os borrachos chegaram a casa e os pombos galegos nunca mais
apareceram. Pai e filho ficaram admirados e o João Bola, encantado com a
experiência, nunca mais perdeu a paixão pelos pombos-correios. E até já tem
sucessores, já que dois filhos, o João Manuel e o Arnaldo, lhe seguem as
pisadas.
Depois de se filiar no clube que é hoje a Sociedade
Columbófila de Esgueira, resolveu, com outros, fundar o GCG. E recorda os
tempos difíceis, com pouco dinheiro para o grupo se desenvolver. Nos concursos
em que começaram a participar, eram fundamentais os constatadores, necessários
para registar a chegada dos pombos-correios, com a introdução de uma anilha que
identificava cada pombo. E conta: «O ideal era haver um constatador para cada
sócio, mas isso era difícil; criámos então três postos de controlo: um na Cale
da Vila, outro junto à igreja e um terceiro na Marinha Velha; quando o pombo
chegava ao seu pombal, o columbófilo tirava a anilha que ele transportava numa
pata e apressava-se, para a introduzir no constatador da sua área; não era um
processo rigoroso, mas era o possível; mas nós fazíamos um desconto, tendo em
conta a distância que o associado tinha de percorrer.»
João Bola, Adelino Pina e João Manuel Bola
João Bola ainda recordou os sacrifícios que os columbófilos
tinham de vencer, semana após semana, durante a época dos concursos. Cada um
colocava a gaiola com os seus pombos no quadro da bicicleta, e a pé, até à
estação da CP, em Aveiro, lá seguiam para o despacho dos pombos-correios. Aí,
abasteciam as gaiolas com água e alimentação para os pombos, pagavam o
respetivo despacho e no local do destino para a largada alguém da Comissão
Columbófila Nacional se encarregaria das operações necessárias para que tudo
corresse bem.
Adelino Pina está esperançado nas promessas do presidente
Ribau Esteves. O espaço que o GCG ocupa no edifício da antiga Cooperativa
Humanitária não tem condições mínimas e a proposta do autarca ilhavense aponta
para a “Casa das Perdizes”, um edifício do Estado, perto do cemitério da
Gafanha da Encarnação. E se as diligências em curso para a cedência da casa
pelo departamento estatal que superintende naquela área tiverem o êxito
esperado, haverá muitas possibilidades de o projeto da nova sede ir por diante.
«Depois terá de haver uma reconstrução e adaptação, havendo a garantia de que a
CMI prestará os apoios indispensáveis», disse o presidente do grupo.
A associação tem 60 sócios, de todas as idades, sendo
assinalável a presença de jovens, frisou Adelino Pina, que acrescentou: «A
columbofilia é uma atividade que envolve toda a família, havendo quem suceda
aos mais velhos; mas ainda há casos de pessoas que aprenderam o gosto pelos
pombos-correios fora das suas próprias famílias, talvez por influência de
vizinhos e amigos.»
O presidente do GCG reconhece que este desporto tem, como
qualquer outro, as suas despesas, mas não é assim tão caro como muita gente pensa.
«Ter o hobby dos pombos equivale a um maço de tabaco por dia; e é um desporto
saudável, familiar e ligado à natureza», afirmou. Além disso — explicou — «o
pombo é um animal que nos dá lições espantosas de resistência e do sentido da
orientação, porque são soltos a grandes distâncias e regressam normalmente à
sua casa, vencendo inúmeras dificuldades impostas pelas condições
atmosféricas». Contudo, adiantou que «nem sempre chegam a bom porto por causa
de condições adversas». E contou: «Um pombo meu, solto em Tavira, foi parar a
Marrocos e quem o recolheu comunicou o facto à Federação. Um ano e meio depois,
o pombo apareceu-me em casa.»
Adelino Pina é columbófilo desde 1992, tendo estado ligado a
um grupo de Aveiro desde o início desta sua paixão. Em 2006 optou por se
integrar no GCG e este ano foi convidado para se candidatar nas últimas
eleições. Assumiu o cargo de presidente da direção e está apostado em dinamizar
o grupo, no sentido de promover a columbofilia, criando condições para envolver
mais gente jovem.
Fernando Martins