Forças ocultas
numa sociedade distraída
numa sociedade distraída
António Marcelino
De vez em quando somos publicamente surpreendidos por notícias
variadas que nos deixam perplexidades, desconfianças e até fundados receios. O
mundo das pessoas não é transparente e os interesses em campo entrechocam-se.
Há sempre vítimas destes jogos escuros. São os mais fracos, pessoas e países,
os que, numa vida de muitas dificuldades, tentam sobreviver, sem que saibam
depois quem lhes põe pedras no caminho ou mesmo quem lhes fecha o caminho para
que não possam ir mais longe.
Quando tudo se passa às claras há sempre alguma
possibilidade de prevenção e de defesa. Não, porém, quando se cultiva o
secretismo e, à superfície, não aparecem senão boas intenções, propaladas
competências e mesmo gestos de solidariedade. Normalmente gestos vistosos e
publicitados de muitas maneiras. Em sociedades democráticas, nas quais ninguém
deverá recear ninguém, o secretismo é incómodo e preocupante, mesmo que não se
consigam vislumbrar os contornos das manobras em campo.
Há pouco tempo foi a maçonaria que veio ao de cima e deixou
muita gente confundida sobre a sua influência oculta ou pública, nos seus
aderentes, nos meios determinantes do governo, nos projectos insinuados e
promovidos, na vida do país em geral. O secretismo aconteceu noutras forças
sociais, mas hoje não se justifica. Os códigos secretos, ainda que sejam
meramente iniciáticos, deixam-nos sempre a pensar no que se passa para além do
que revelam e do que se diz. Os partidos comunistas deixaram de meter medo,
quando terminou a sua clandestinidade obrigatória. Agora os seus objectivos e
projectos são públicos, os confrontos sociais têm o seu sentido e há espaços de
diálogo possível, sempre úteis, mesmo que não se consigam resultados
espectaculares. É legitimidade democrática e o respeito mútuo o grande apelo da
convivência sem medos, nem desconfianças.
De tempos a tempos fala-se, sem grande alarde, do Club
Bilderberg, a propósito dos convidados, políticos e jornalistas, normalmente,
que não passam do pórtico das simpatias. As sessões dos membros são à porta
fechada, o mais sigilosas possivel, com casa vigiada a pente fino e sem ninguém
por perto. Nestas sessões só os magnatas mundiais, à volta de cem, de vários
países, fruto de uma selecção de alto rigor. Nelas se determinam as grades
linhas da política e da economia que vão reger a sociedade a nível mundial. “Um
governo invisível e omnipotente que comanda os fios controladores, a partir da
sombra desde o governo dos Estados Unidos da América, à União Europeia, às
Nações Unidas, à Organização Mundial da Saúde, ao Banco Mundial, ao Fundo
Monetário Internacional e a qualquer outra organização similar, tudo em nome
dos projectos futuros da Nova Ordem Mundial”. À medida do poder que prevalece.
Ali se eliminam uns e se promovem outros, se apaga e se incendeia ao mesmo
tempo, sem que se possa ver a mão e o rosto de quem o faz. Também são gestos de
solidariedade internacional, e por estes se confortam muitos daqueles que antes
foram arruinados.
Portugal, tal como sabemos e sentimos, está agora na
ribalta. Os mais pequenos e mais fragilizados, ontem como hoje, sempre
estiveram na mesa das decisões, à distância, dos grandes e dos poderosos. Há
dependência, que se podem sacudir e evitar. Outras têm consigo açaimos e
grilhões. Se nos dividirmos cá dentro – há manobras comandadas nesse sentido –
seremos mais facilmente vencidos. Se, porém, para além das ideologias que podem
dividir, deitarmos mão da força interior que a todos nos toca e é a grande
riqueza de todos e para todos, ainda que com sacrifícios pessoais e de grupos,
demoras e dores, o êxito final será sempre de quem não desiste, sabe o que
quer, luta pelo bem comum, integra riquezas e esforços os mais diversos,
persiste no caminho.