Jean Jacques Rousseau
Educar com o coração e não com o compêndio
Maria Donzília Almeida
A educação do homem começa
no momento do seu nascimento;
antes de falar, antes de entender,
já se instrui.
Jean Jacques Rousseau
Com o fim do ano, ficaram para trás as avaliações, os Planos de Recuperação, Planos de Acompanhamento, reuniões de Departamento, a rigidez dos horários e o burburinho dos alunos, que constitui a música de fundo de qualquer escola.
Com dias maiores, plenos de sol e as nortadas a fustigarem-nos o rosto, apetece fazer as malas e partir para destino incerto. É salutar a mudança de ambiente geográfico, para melhor retemperarmos forças e para nos libertarmos do stress do dia-a-dia docente.
Neste período intermédio entre a cessação das atividades letivas e o início de férias, a mente ainda é invadida por, ideias e questões relacionadas com a educação.
Um dos pensamentos mais recorrentes, prende-se com o binómio sucesso/insucesso. Da minha experiência com a malta miúda, uma das coisas mais facilitadoras da aprendizagem, é o comportamento, em sala de aula. Quando a postura do aluno é de infração permanente às regras estabelecidas pelo Regulamento Interno da Escola, a aula funciona mal, há um enorme desperdício de energia, por parte do professor e todos saem prejudicados.
Quando analisamos o comportamento dos alunos com este perfil, constatamos, a maior parte das vezes, que são crianças oriundas de famílias desestruturadas, revelando uma enorme carência afetiva.
Parafraseando Rousseau, já que a educação começa logo após o nascimento, quando não na vida intra-uterina, é importante que a criança tenha referências de ambos os progenitores. Cabe, maioritariamente à mãe, em caso de separação dos cônjuges, a responsabilidade parental, já que o pai se demite das suas funções. A referência paterna é um elemento estruturante da personalidade.
Tive conhecimento de um pai, que após o divórcio, abandonou completamente o filho. É de bradar aos céus! Apetecia dizer que se fizessem exames/testes psicológicos, para aferir da capacidade/competência dos aspirantes a pais. Se assim fosse, tal como se fazem esses testes para verificar a tendência vocacional, do indivíduo, assim se faria para comprovar os pré-requisitos para a paternidade. É para mim, verdadeiramente revoltante, ver filhos completamente ignorados pelo pai com as consequências devastadoras que isso traz: Um futuro comprometido!.
Se há pais que abandonam os filhos à sua sorte, há também o reverso da medalha, que não é menos perigoso para o crescimento equilibrado dos mesmos. Aqueles pais que não tendo realizado os sonhos duma vida, no aspeto profissional, projetam nos filhos a realização das suas aspirações Além de ser muito prejudicial a um, são e harmonioso, desenvolvimento, cerceando-lhes o sentido de autonomia, uma aquisição própria e gradual, pode, no futuro causar frustrações que chegam a ser patológicas. Há casos que o comprovam. Quando um jovem cai nele e descobre que não era aquela orientação profissional que pretendia, e que a sua verdadeira vocação ficou adiada, é um caso muito sério. No entanto, há pais que se julgam muito sábios, ao porem o tapete ao filho, evitando sempre qualquer dificuldade ou embuste.
Às vezes vêem-se pais quase analfabetos, educarem melhor que alguns com muita formação. Educam com o coração e não com o compêndio!
O que se preconiza, aqui, é que as crianças sejam acompanhadas de perto, com muito amor e dedicação, na presença efetiva e afetiva dos pais, dentro dum sistema de regras e valores que as irão conduzir pela vida fora. Deve dar-se-lhes alguma liberdade, com responsabilidade, para a construção da sua autonomia. Se assim for, a criança aprenderá a fazer as suas escolhas e fazer a sua opção profissional, na devida altura. Esta sim, seria a educação para a cidadania!