“Don’t worry, be happy!”
Maria Donzília Almeida
Com o espírito mais liberto e o tempo menos espartilhado entre mil e uma tarefas, até a música tem outro encanto. A melodia citada em epígrafe, desde os tempos remotos, de 1988, em que apareceu, está aí de novo, sempre repetida e tão sentida. O cantor Bobby McFerrin readquiriu a força que o lançou e o refrão da canção anda aí, na boca de toda a gente.
Cada um atribui à canção o sentido que a sua vida lhe permite. A mim, evoca uma cena sui generis, que ficará nos anais de uma Mulher!
Fui solicitada a acompanhar uma amiga, à última morada. Não ao cemitério, mas a um tribunal, onde iria ser lida a sentença que poria termo à sua família. Uma morte anunciada, havia muito tempo.
Merece-me, aqui, fazer umas breves considerações acerca da efemeridade das famílias atuais, que parece estar a acentuar-se, a olhos vistos. As estatísticas falam por si e apresentam um panorama muito negativo. As relações pessoais são precárias, as pressões da sociedade são muitas e há uma crise de valores como não há memória.
Foi neste contexto que Catarina se encontrou e interrogava-se, lá no fundo, se teria tomado a melhor opção. Decidira pôr fim àquele casamento de fachada, onde o amor, base de toda a união conjugal, tinha estiolado, sem os ingredientes necessários para o manter vivo. Fora ela, durante muito tempo o esteio, o homem do leme daquele barco que navegava em alto mar. Várias vezes ameaçara naufrágio, mas com ventos de feição, lá ia conseguindo adiar a catástrofe.
Os filhos, as vítimas, ficam, frequentemente, marcadas com a separação dos progenitores. E, há traumas que acompanham o indivíduo para o resto da vida.
Foi nestas circunstâncias que encontrei a amiga, naquela sala de audiências, a tomar a decisão da sua vida!
Planeara, ao pormenor, aquela separação amigável, que se revestiu de toda a serenidade que uma mulher deseja, à sua volta. Quisera poupar o marido, assoberbado com o trabalho que as suas funções de chefia lhe impunham. A harmonia da conjugalidade, transposta para o ambiente familiar, fora sempre o seu maior desiderato. Não fora conseguida a solução, partia-se agora para a dissolução. Ah! Mas fizera as coisas, de modo que o seu companheiro não fosse sofrer muito! Procurara para ele, um ninho, onde se pudesse acolher após a retirada do quartel-general e até sugestões foram apresentadas, para uma futura companheira, em que, até, os dotes culinários foram contemplados! O pai dos seus filhos fora tratado como um príncipe!
Tanto civismo demonstrado, tanta cordialidade no tratamento dos assuntos, que apeteceu dizer: Se ficaram tão amigos, afastados um do outro, porque não sanaram os problemas que tinham e mantiveram a família unida? Insondáveis são os caminhos do Homem!
Postados, lado a lado, no tribunal, ouviram a “sentença”, do juiz com a compenetração que a “cerimónia” exigia. Após uns breves minutos de silêncio, Catarina, com ar sorridente e tranquilo, perante a perplexidade de toda a assistência, estendeu a mão àquele que fora seu companheiro, “n” anos e clamou, alto e bom som: “Don´t worry! Be happy!”
14.07.2011