sábado, 18 de junho de 2011

7.ª Jornada da Pastoral da Cultura: Elogio da Fraternidade

Lídia Jorge, D. Manuel Clemente, José Mattoso e Tolentino Mendonça

A Fraternidade promove 
a aproximação ao outro


Participei ontem, em Fátima, na 7.ª Jornada da Pastoral da Cultura, dedicada ao “Elogia da Fraternidade”. A abrir a Jornada, o padre e poeta José Tolentino, presidente do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), afirmou que é na diversidade das linguagens que vamos «tecendo a nossa cultura», com intervalos curtos, mas suficientes, para nossa «respiração pessoal». Trata-se de uma iniciativa daquele secretariado, a que presidiu D. Manuel Clemente, Bispo de Porto e presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais.
Para D. Manuel Clemente, a fraternidade promove a «aproximação ao outro, ideal que vamos conseguindo, mas sempre em marcha». Contudo, este valor é «o mais «custoso da trilogia lançada pela Revolução Francesa [Liberdade, Igualdade, Fraternidade]», sendo certo que o acolhimento ao outro «não é coisa fácil, sobretudo quando o outro é de outra religião». 
O Bispo do Porto defendeu que o cristianismo autêntico assume a fraternidade e acrescentou que é imperioso «aceitar Deus nos outros e não o Deus dos outros». Adiantou que a fraternidade requer a família e que urge «ser com os outros e para os outros». «O pensar abstrato em relação aos outros destrói qualquer hipótese de levar à prática a fraternidade», disse. Ainda afirmou que a fraternidade conjuga a subsidiariedade e a solidariedade, porque não dispensa os outros e vive para os outros. 
Falando de Sabedoria e Fraternidade, o historiador medievalista José Mattoso afirmou que, «se algum progresso houve, foi à custa da fraternidade», já que a técnica se torna «impotente para resolver os problemas da humanidade». Afirmou, a dado passo da sua intervenção, que a fraternidade valoriza as relações humanas, enquanto a sabedoria gera a partilha. Também referiu que «podemos sofrer, mas não podemos fazer sofrer». 
A escritora Lídia Jorge procurou traçar, através das suas leituras, um caminho na busca das respostas ao tema que desenvolveu — Que sabe a cultura acerca da Fraternidade? Reconhecendo que «a partilha de bens sofreu um recuo» e que se experimentam momentos de «sombras e holocaustos», Lídia Jorge frisou as deceções que se têm registado. Importa, por isso, referiu a escritora, perguntar aos vários setores da sociedade «o que podem oferecer para corrigir a deriva».
De obras lidas, referiu que na literatura predomina o contrário da fraternidade, em patente, entre nós, a história bíblica de Caim, que José Saramago tratou numa das suas obras, com o mesmo nome, e que tanta polémica gerou entre crentes e não crentes.
«Quando pensávamos que o progresso era ilimitado, que os estados seriam parceiros e amigos da vida, os bancos um cofre inesgotável, a juventude o futuro que não conhecia decadência, o cartão de identidade um documento dispensável substituído por um cartão de crédito, que as fronteiras seriam abolidas, de súbito tudo se alterou”, referiu a escritora. E acrescentou: «o homem esperançoso confunde a causa dos outros com a sua; é a certeza que este futuro existe, que nos dá confiança.» 

Fernando Martins 

Nota: Voltarei ao tema da Jornada

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