José Tolentino Mendonça
Nietzsche deixou escrito, sublinhando bem a negativa, que não acreditaria num Deus que não dance. Muitas vezes, mesmo se colocado noutro ponto de vista, me apetece ajuntar: eu também. De facto, aquilo que parece ser apenas um severo emblema para a suspeita da não-existência de Deus, pode, ao contrário, tornar-se em proclamação crente da sua presença no tempo.
Acredito num Deus que dança: isto é, num Deus que não se isenta do devir, nem permanece neutral em relação às nossas histórias. Acredito num Deus imiscuído, engajado, detetável até pelo impreciso radar dos sentidos, suscetível de ser invocado pelos motores de busca das nossas persistentes interrogações ou do nosso silêncio. Deus não está unicamente para lá da fronteira do pensável e do dizível: está também aquém; nós vivemos no espanto interminável da sua presença; e as nossas palavras, por pobres que sejam, constituem pontes de corda lançadas sobre a amplidão do seu mistério.
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