sexta-feira, 8 de abril de 2011

Crónica de um Professor: Há que distinguir o trigo do joio!


“Os professores são os inúteis
mais bem pagos do país.”

Maria Donzília Almeida

Por estranho que pareça, o que vai ser narrado a seguir, passou-se no dia 1 de Abril. Qualquer relação com o dia das mentiras é pura coincidência e a pessoa que vai apresentar o episódio é a mesma que, nesse dis, denunciou alguns aspectos da profissão docente, no seu lado negativo e frustrante.
Passemos aos factos: na tarde de 6ª feira passada, dia 1 de Abril, um grupo de professores, acompanhou a Aveiro, ao cinema, um grupo de alunos de uma determinada turma.
Fora discutido, amplamente, na anterior reunião de avaliação, que processos/estratégias deveríamos adoptar, para lidar com a indisciplina na sala de aula, na escola. A discussão foi acesa, pois cada professor, certamente já tinha usado todos os meios dissuasores de atitudes e comportamentos que interrompessem o bom funcionamento da aula, sem sucesso.
Com alguns alunos, nada resulta, era a conclusão a que todos chegavam. A coação, a ameaça, o castigo eram amplamente usados, mas já estão esvaziados de poder.
Porque não fazer o oposto do que sempre temos vindo a aplicar? — propôs o Diretor de turma. — Que tal premiar os alunos bem comportados e interessados em aprender? Passamos a vida a debruçar-nos sobre os maus, que até nos esquecemos dos bons!
A proposta não podia ser mais aplaudida e bem aceite por todos. Então, começou a planear-se levar as criancinhas ao cinema! A concretização desse projecto, aconteceu na 6ª feira, dia 1 de Abril, numa tarde, em que alguns professores, excepcionalmente, não tiveram compromissos na escola. Teriam uma tarde livre, que dedicariam à família ou que seria utilizada para descansar, ou tratar dos seus afazeres.
Estas criancinhas foram transportadas ao cinema, nos carros dos professores, a expensas suas.
Foi uma alegria para todos e lá no fundo, iam construindo o conceito do trabalho, e sentindo “como é bom ser bom! Munidos dos bilhetes que eles próprios adquiriram bem como dos sacos de pipocas, no que os professores lhes fizeram companhia, lá entraram para a sala do cinema, que parecia ter sido reservada só para este grupo. O filme fora escolhido de acordo com a sua faixa etária, e todos se comportaram como gente adulta. Mas, “os professores são uns inúteis....” disse alguém, numa forma de despotismo ideológico, que em nada se assemelha à sua progenitora. Uma mulher que ficou para a história, pela sua nobreza e pelo seu humanismo bem patente.
Não é preciso grande conhecimento da vida, nem profundas filosofias, para se saber que as generalizações são perigosas. Os alunos são todos uma peste! E não sabem nada! Esta é umas das tais, que anda na boca de toda a gente. O episódioo que aqui foi referido, da ida ao cinema de um grupo de alunos é a prova evidente que contraria essa afirmação. Temos o exemplo dos mass media que quase só apresentam ao grande público, as mazelas da sociedade e as tragédias naturais, nos países onde acontecem. E a outra parte?
Será que está a desvirtuar-se a valorização dos princípios em que assenta a construção do indivíduo e obviamente da sociedade? Raramente se ouve falar daqueles alunos e professores que, anonimamente, em espírito de partilha, fundam os alicerces de um país que pretendem, se torne melhor.
À guisa de conclusão, atrevo-me a dizer, àquele escritor, que a árvore não faz a floresta e há que distinguir o trigo do joio! Mais ainda, convido este senhor a vir passar uns tempos numa escola e constatar, in loco, o que fazem aqueles” inúteis”!
8 de Abril de 2011


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