Idosos
A solidão
Maria Donzília Almeida
A propósito da notícia, recentemente, divulgada e amplamente comentada, surge esta reflexão.
Uma idosa foi encontrada morta em sua casa, num prédio de vários andares, onde ficou durante nove anos. Dá que pensar, já que os vizinhos nunca se aperceberam de qualquer sinal de cadáver. Apenas uma vizinha estranhara a sua prolongada ausência e avisou as forças de segurança para que envidassem esforços no sentido de descobrir o enigma.
Mais do que lamentar e condenar a inoperância dos agentes da GNR por incúria e negligência, depara-se aqui com um mal maior e que vai corroendo a sociedade portuguesa - a solidão.
Com os notáveis avanços da investigação médica, foi largamente aumentada a esperança de vida, levando a que haja maior número de idosos e que se viva até uma idade mais avançada. Muitas pessoas, passado o seu período produtivo, ficam mais entregues a elas mesmas e também mais propensas à solidão. É certo que por aí vão proliferando os lares de terceira idade, nem todos com as devidas condições de sanidade para poderem funcionar, diga-se de passagem, para tentarem resolver este problema social. Com o envelhecimento da população, são a forma de dar resposta a este crescente problema. Nem todos os idosos vão para os lares; ou porque são recebidos pelos familiares, por problemas económicos, ou simplesmente não querem abandonar a sua casinha onde sempre viveram. Sem querer pôr-me a adivinhar, talvez tenha sido esta a razão que levou esta senhora a permanecer na sua casa.
Mesmo entre pessoas menos idosas, a solidão instala-se e vai minando a pessoa. Nos dias de hoje, em que cada um luta desenfreadamente pelo seu ganha-pão, não resta tempo nem disposição para trocar duas palavras com o vizinho. Cada um vive na sua concha e é incapaz de dar algum conforto a quem dele precisa.
Era exemplar, como, nos tempos antigos, se vivia no meio rural, em que quase todos se conheciam e todos se saudavam, na rua. Aqui, não havia lugar para a solidão, pois as pessoas se abriam, comunicavam, inclusivamente, enquanto realizavam as tarefas agrícolas. Era um regalo ver aquela gente, empunhando a enxada ou o engaço, no amanho da terra e ao mesmo tempo, cantando as melodias do tempo. Nas cidades, cada um enclausura-se na sua toca, esquecendo quem mora ao lado, ou no andar de cima.
Deixo aqui um apelo: vamos abrir os nossos corações e proibir que alguém ao nosso lado, ou nas imediações, sofra deste mal. Quem a vive já constatou por experiência própria, que A SOLIDÃO MATA!
10/02/11